Outono – Soutos da Padrela

No centro norte de Portugal, próximo daquela que é considerada uma das estradas mais longas do continente europeu, que divide verticalmente Portugal ao meio, fica a maior mancha contínua de soutos da Europa. É nas proximidades da serra da Padrela, nos concelhos de Valpaços e Vinhais, que a produção de castanha se destaca a nível nacional. Seguimos EstradaFora em direção a terras transmontanas e fomos conhecer um pouco desta região.

Estrada Nacional N2

Com a chegada do outono, chegam também a queda das folhas e os tons dourados típicos desta época, com os vinhedos a pintalgar os socalcos após a vindima; as árvores de folha caduca a matizar as encostas da serra em tons dourados; e pelo meio os frutos de inverno, com destaque para as castanhas, que pela altura de S. Martinho, nos serões mais frescos da época, são uma apetitosa companhia, quer seja em família ou em convivência com amigos.

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Conteúdos deste artigo

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Castanha da Padrela

A região de Trás-os-Montes tem algumas preciosidades em abundância, entre elas a castanha e o azeite, ambas com qualidade certificada. O castanheiro, presença milenar nesta região, foi outrora considerado de importância vital nas gentes mais pobres, até chegarem à Europa culturas como o milho e a batata. Na lista de produtos com Denominação de Origem Protegida, na produção de castanha é aqui na região transmontana que se encontra a maior quantidade a nível nacional, onde se destaca a variedade “judia” com mais de 80% da produção, e a “longal”, considerada de melhor sabor e mais fácil de descascar. Conhecida como Castanha da Padrela, é na atualidade de importância relevante para economia da região, com grande parte da produção a ser exportada para Espanha e França, onde se confeciona o tradicional marron glacé, mas também para Itália e Brasil, embora em menos quantidade.

Origem da castanha

Presume-se que a castanha seja oriunda Ásia Menor, Balcãs e Cáucaso, tendo constituído um importante contributo calorifico para o homem da pré-histórica. Terá começado a ser usada na gastronomia praticamente desde o seu aparecimento, tendo sido utilizada durante a idade média por Monges e Freiras na confeção de diversas receitas, altura em que a castanha era moída, tornando-se um dos principais farináceos na Europa. A castanha sempre foi um alimento muito popular, constituindo um nutritivo complemento alimentar quando os rigores de inverno se instalavam. Considerada atualmente como uma guloseima da época, continua a ser indispensável na confeção de vários pratos tradicionais, principalmente nas regiões onde é produzida, e a ser um importante complemento calorifico para enfrentar o rigor dos invernos transmontanos.

Quando visitar os soutos da Padrela

A data para visitar os soutos e zonas onde a castanha é produzida varia consoante o gosto de cada um, com pouca diferença no tempo. Se a sua intenção é ver os castanheiros com os ouriços na altura da colheita, participar na apanha das castanhas e quiçá trazer algumas, a data ideal será os últimos dias de outubro ou os primeiros de novembro. Se a sua intenção vai mais ao encontro da beleza paisagística, recomendo um dos percursos ‘Dourados da Padrela’ em meados de novembro, que tanto podem ser feitos de forma circular como linear, passando por várias localidades nos cerca de 30.000 hectares de soutos certificados.

O outono nesta região

É no pico do Verão que a ramagem das árvores caducifólias atingem o auge, começando em decadência desde ai até ao outono, quando a folhagem atinge o ponto de saturação, substituindo gradualmente o verde por tons amarelos, dourados e castanhos, matizando a paisagem alguns dias antes da queda das folhas. Para o castanheiro, uma das espécies de grande longevidade, o outono é também a estação do ano em que se faz a colheita, seguindo-se a perda da totalidade das suas folhas. No outono o clima começa a ser mais frio, os dias mais curtos, as noites mais longas, e as árvores caducifólias entram em repouso vegetativo, para darem inicio a um novo ciclo na primavera seguinte. Esta espécie bastante rústica, que dispensa grandes cuidados de cultivo, tem o seu esplendor nesta época do ano, com a colheita dos seus frutos e, acima de tudo, a mudança gradual da cor da sua folhagem a contribuir para a beleza da paisagem.

Veja aqui um pequeno artigo sobre as Faias de São Lourenço na serra da Estrela

Como chegar e onde ficar alojado

Chegar a esta zona não é difícil, basta apanhar a EN2 e uma vez nela dirigir-se para norte, encontra a quase totalidade dos conteúdos deste artigo após passar Vila Pouca de Aguiar. Salvo raras exceções, a autoestrada não faz parte das rodovias que o autor deste blog pretende usar nas suas deslocações, se for essa a sua preferência tem a A24, saindo em Vidago. Apesar do clima um pouco cinzento não fazia frio, decidimos ficar alojados na Casa Fontes, em Bornes de Aguiar, um espaço rural convertido em alojamento local, sossegado e próximo de tudo o que pretendíamos visitar. Um espaço que recomendamos e muito bem qualificado no Booking.


O que visitar com pouco tempo disponível


Santuário do Alto do Côto – Vidago

Em Vidago comece por subir ao Santuário do Alto do Côto, onde se encontra também a torre do relógio e de onde obtém vista abrangente sobre a vila, outrora atravessada pela linha do Corgo. Aqui do alto, pode ver o imponente arvoredo centenário onde se encontram as águas termais juntamente com o Vidago Palace Hotel. Seguindo a configuração da copa e ramagem dos plátanos, pode ver também onde se encontram algumas das alamedas desta vila.

Vidago

Vidago Palace Hotel

Ao passar os grandes portões de ferro do Vidago Palace Hotel, a alameda principal rasga para um bosque encantado, onde plátanos, magnólias, pinheiros, cameleiras e azevinhos serpenteiam pelo exterior da monumental fachada ocre avermelhada do hotel. Inaugurado em 1910, o Vidago Palace Hotel é atualmente o maior ex-libris de Vidago, um imponente e luxuoso hotel rodeado por um majestoso bosque de árvores centenárias. Foi mandado construir pelo rei D. Carlos I, que desejava ver edificada em Vidago uma estância terapêutica de luxo com projeção internacional. Projetado por José Ferreira da Costa, foi inaugurado no mesmo ano em que a linha do Corgo chegou a Vidago (1910), fazendo desde 1921 a ligação ferroviária entre a cidade de Chaves e a cidade da Régua, na linha do Douro, com passagem por Vila Real.

Igreja Paroquial de Vidago

A Igreja Paroquial de Vidago é uma igreja de construção simples, com planta de uma só nave em forma de cruz latina e com abside curva. De interior simplista, destaca-se a entrada principal, encimada por três arcos de volta perfeita, decorados com motivos geométricos e apoiados em ambos os lados em três capitéis com esculturas decorativas esculpidas. Destaque também para a rosácea sobre o portal de entrada, na fachada principal. Os apoios financeiros para a construção desta igreja tiveram origem maioritária nos donativos da população local.

Percorrer a vila de Vidago

Vidago encontra-se situada no centro norte de Portugal, a cerca de 15 km para sul Chaves, cidade sede do concelho a que pertence e onde tem inicio a famosa EN2. A vila encontra-se localizada no enfiamento de uma falha tectónica que percorre verticalmente o país, (um pouco à semelhança do IP3) no fundo de um vale onde confluem a Ribeira de Oura e o Rio Avelames. Esta vila foi em tempos um dos balneários termais mais visitado de Portugal, sendo testemunha disso alguns edifícios hoje abandonados, ou em ruínas, outrora alojamento dos inúmeros visitantes que aqui se deslocavam pela qualidade das suas águas, termais e minerais.

Um impedimento para o desenvolvimento da vila foram os maus acessos, os hospedes vinham por estradas que muitas vezes não passavam de um simples caminho de terra. Após a construção da linha de ferro as termas assumiram popularidade renovada, e o Hotel Palace aqui construído, à data era o mais luxuoso da península ibérica.

O parque arbóreo de Vidago, maioritariamente inserido na área que pertence ao Vidago Palace Hotel, apresenta as mesmas características do inicio do século passado. Os seus corredores, os percursos, os seus trilhos, e as suas lagoas, convidam o visitante a passear e desfrutar deste maravilhoso espaço, que com a sua fauna e flora em constante mudança, consoante as estações do ano, fazem deste um lugar verdadeiramente mágico.

Águas termais e minerais de Vidago

A água mineral de Vidago, é uma água gasocarbónica que acabou por ser descoberta ao acaso, por um lavrador local que sofria de problemas digestivos. Esse lavrador, bebeu de uma nascente que por ali existia e pouco tempo depois sentiu-se aliviado, voltando a beber da mesma água nos dias seguintes. Posteriormente relatou o sucedido ao médico que acompanhava o seu estado clínico…(…)

Fonte de Vidago Nº1

As qualidades terapêuticas e curativas desta água, fizeram com que Vidago se tornasse na principal atração turística de Portugal no início do século XX, sendo nessa altura um destino de eleição da aristocracia europeia. Das nascentes que existem à superfície no parque do Vidago Palace Hotel, à data da visita foi possível fazer prova numa delas, num dos edifícios de arquitetura típica do início do século XX, onde uma senhora atenciosa nos explicou boa parte das propriedades curativas desta água.

Galeria de repouso

Campo de Golf

Construído em 1936, dispunha na altura de 9 buracos. Foi redesenhado e reconstruído recentemente de acordo com as especificações da USGA (United States Golf Association) para greens e tees, mantendo a identidade do desenho original e refletindo fielmente a beleza do lugar. Foi transformado num campo par 72, permitindo a realização de campeonatos internacionais.

Balneário pedagógico de Vidago

Potenciando a investigação e o desenvolvimento das práticas termais de Vidago, o balneário pedagógico encontra-se situado nos remodelados edifícios da estação ferroviária outrora aqui existente, a poucos metros do posto de turismo, também ele instalado num dos edifícios que em tempos serviu a linha ferroviária. O espaço propicia aos termalistas tratamento que permite a recuperação e manutenção da condição física. Na readaptação do espaço foi possível conseguir um equilíbrio entre o passado e o presente, deixando transparecer a memória do lugar.

Soutos da Padrela

Sobre o motivo principal desta visita, os soutos da Padrela, foi nossa intenção fazer uma incursão pelo concelho de Valpaços com direção a Carrazedo de Montenegro, considerada a “capital da castanha”, convictos de que cedo ou tarde iríamos entrar na zona dos soutos, tal como aconteceu. Partimos de Vidago em direção a Loivos, posteriormente S. João da Corveira e de seguida Carrazedo de Montenegro. Foi em S. João da Corveira que começamos a avistar os soutos, onde à data da visita as gentes locais tinham como principal tarefa a apanha das castanhas, um fruto que deve ser apanhado após cair ao chão por ele próprio, sinónimo de ter atingido a maturidade.

Não exagero se disser que em algumas zonas a única espécie arbórea que se avistava no horizonte eram os castanheiros. Já passava de meio da tarde quando decidimos seguir em direção a Vila Pouca de Aguiar, pela estrada regional R206, mas não sem antes colhermos algumas castanhas, de onde resulta a imagem de destaque deste artigo. Após alguma distância percorrida os soutos da Padrela ficaram para trás, dando lugar a encostas matizadas pelas cores típicas de outono, onde castanheiros, carvalhos e outras árvores de folha caduca se destacam no meio das áreas de pinhal.

Soutos da Padrela

Pedras Salgadas, Spa & Nature Park

À semelhança de Vidago, na mesma falha tectónica fica a estância termal de Pedras Salgadas, a duas ou três centenas de metros da EN2 e a meia dúzia de km para norte de Vila Pouca de Aguiar. Visitar esta estância balnear é como fazer uma viagem no tempo, sem tempo limite nem restrições fotográficas ao longo da visita, e onde podemos imaginar como seria a vida por aqui quando esta estância termal se encontrava no seu auge, que é como quem diz, quando os comboios ainda silvavam no corgo. Para além dos edifícios históricos e das fontes, ou pontos de recolha da água mineral, onde em algumas se pode ver o borbulhar da água dentro do buvete vinda do interior da terra, encontra também um bosque com árvores centenárias e lagoas, que pouco ou nada fica a dever ao seu semelhante em Vidago.

A construção por aqui mantém o estilo “Belle Époque”, o mesmo que as fontes de Vidago, e uma alameda longitudinal parece servir de delimitação entre a zona plana e a encosta. À beira desta alameda uma casa de chá e restaurante, balneários termais…, e ao cimo de uma escadaria damos de frente com o “casino”, um edifício que parece ter saído de um livro de fantasia. Percorrendo o bosque acima desta alameda, um labirinto de percursos dão acesso às Eco-Houses e às Tree-Houses, pequenas construções de madeira e pedra lousa, todas elas com planta diferente e totalmente inseridas no meio da natureza.

Uma das lagoas do parque das Pedras Salgadas

Após entrar no Pedras Salgadas, bem perto da entrada existe uma nova atração lúdico-turística, o “Pedras Experience”, que permite conhecer um pouco melhor a sua história. Uma exposição com o espólio desde que foi considerada especialidade farmacêutica até chegar a água de mesa; recriação de ambientes em diferentes épocas…; como se vivia o Parque de Pedras Salgadas desde o tempo da Monarquia e durante o século XX, etc. Um espaço que vem complementar a oferta deste destino único, onde se encontra a origem da centenária e premiada Pedras, uma água com gás 100% natural, reconhecida pelas suas credenciais e composição únicas.

Pedras Experience

Lagoa do Alvão (barragem da Falperra)

A lagoa do Alvão, ou barragem da Falperra se preferir, é um ponto de retenção de água de grande interesse para a comunidade local e para os seus habitats naturais, fauna e flora. É uma pequena barragem situada num local aprazível e de fácil acesso, que convida à prática de desportos náuticos e momentos de lazer. Fica situada a cerca de 5 km de Vila Pouca de Aguiar e foi construída recorrendo a materiais naturais autóctones, nomeadamente o granito. Conta com apoio balnear, parque de merendas…, e um percurso pedestre a circundar a albufeira, com um observatório de aves pelo meio. O parque de campismo Alvão Village & Camping fica ao lado, ali pertinho.

Castelo da Pena de Aguiar

O castelo da Pena de Aguiar (atualmente apenas as ruínas), totalmente construído em cima de um enorme rochedo em granito, foi em tempos uma fortificação cujas origens remontam a finais do século IX, princípios do século X. Considerado monumento nacional desde 1982, encontra-se situado a poucos quilómetros da estrada nacional N2, num local elevado e de posição dominante, de onde se obtém impressionantes vistas sobre a periferia a partir do seu ponto mais alto, hoje transformado em miradouro. Este castelo e toda a sua envolvente natural, podem ser visitados em autonomia, sem necessidade de marcação.

Ruínas do castelo da Pena de Aguiar

Apontamentos e outros locais de interesse nas proximidades

Parque florestal de Vila Real, à beira do Rio Corgo.

Veja aqui um artigo sobre os passadiços do Corgo, um rio que atravessa a cidade de Vila Real.

Pode ver aqui também um roteiro que lhe pode interessar por alguns miradouros do Douro.

Em Vidago, o lugar que mais nos cativou para almoçar foi a Taska do Quim Barbeiro, um ambiente de proximidade ao estilo “Tasca”, mas cozinha muito boa e saborosa.

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Mapa de Localização (norte de Portugal)


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