Douro Vinhateiro – Miradouros

O rio Douro, ladeado pelos seus socalcos xistosos, pelos seus vinhedos, e pelas suas encostas rochosas e escarpadas, constitui um dos maiores atrativos para quem visita o norte de Portugal. É acompanhado pela linha do caminho de ferro numa das suas margens, e na outra a Estrada Nacional 222, com um troço que é considerado uma das estradas mais bonitas do mundo, a parte que liga a cidade da Régua à vila do Pinhão.

A vila do Pinhão ao fundo

Conteúdos de artigo

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Ao longo do seu percurso é atravessado por diversas pontes, algumas delas históricas, e as suas paisagens deslumbrantes são um encanto para os amantes de fotografia, bem como para todos quantos visitam esta zona. Visitar o Douro e toda a sua envolvência, é sinónimo de visitar uma das zonas mais bonitas de Portugal e do mundo. Classificado pela UNESCO como Património Mundial, o Douro vinhateiro e toda a região envolvente encontra-se dotada de vários meios que permitem a sua melhor interpretação, entre eles diversos miradouros, que lá do alto permitem contemplar melhor a beleza das suas paisagens.

Ponte histórica Gustave Eiffel – Pinhão

No conjunto desses miradouros existem alguns emblemáticos, principalmente pela referência que são para esta região. Ligam-nos entradas cheias curvas e contracurvas, onde a beleza da paisagem é difícil de registar apenas pela objetiva de uma maquina fotográfica, o seu encanto vai além do que os olhos contemplam. Contando com uma pequena pausa em cada um, e algumas paragens para registo fotográfico dos cenários deslumbrantes com os quais se vai deparar, seria ideal dispor de pelo menos dois dias.

  • Por aqui os percursos em linha reta são escassos e as encostas íngremes. Seja prudente na condução.

1 – Miradouro de N. Sra. do Viso

A estrada que percorro até chegar a este miradouro tem pouco transito, é uma estrada secundária de apoio à produção vinícola, de onde sai uma ligação que dá acesso ao miradouro, cuja localização no mapa se situa precisamente na linha divisória dos distritos de Viseu e Guarda.

Por aqui os percursos em linha reta são escassos e as encostas íngremes, a necessidade de atenção redobrada na estrada é uma constante. Este miradouro encontra-se num santuário com o mesmo nome, o santuário de N. Sra. do Viso. A partir deste miradouro é possível vislumbrar uma grande área onde se inclui o rio Douro, o Castelo de Numão, o miradouro de S. Martinho de Seixas, e entre outros a paisagem vitivinícola existente. Avista-se também a capela de S. Salvador do Mundo, um dos pontos de visita que levo no meu roteiro.

Neste santuário existe uma poesia escrita sobre azulejo e assente num muro de xisto que se torna leitura obrigatória:

Visitante irmão, detém-te e medita, na grandeza infinita, da imensidão.

Caminha por vales e montes, nas asas silenciosas do olhar. Voa para além dos horizontes, na alma enobrecida do sonhar.

Embalado pela amenidade do silêncio, da tranquilidade e do recolhimento procura, repousar nos braços da ternura, contemplando a beleza da terra e do céu, e com calma, do fundo da alma, dá graças a Deus.

João Mateus 01-2004

Após alguns minutos por aqui retomo a estrada com destino ao próximo ponto de visita, um outro miradouro, de características diferentes quando comparado ao anterior, o miradouro de Vargelas.

2 – Miradouro de Vargelas

O miradouro de Vargelas fica situado na estrada municipal 541 e conta com vista privilegiada sobre o Rio Douro. A partir deste miradouro avista-se a linha do comboio na saída do “Cachão da Valeira”, a ponde de Ferradosa, as quintas com as suas vinhas de geometria variável, ora curvilínea ora retilínea, num paralelo constante parecendo terem sido traçadas no estirador de um projetista, também se parecendo com os desenhos dos naperons de uma bordadeira.

Vê-se ainda alguns cais de embarcações de recreio, as edificações de algumas quintas mais à beira rio…, e ali mesmo ao meu lado dois ou três parágrafos numa laje de xisto,… ou ardósia,(?) escritos pelo criminologista Moita Flores.

Quem subir ao alto de Vargelas ficará com a certeza de que chegou ao ponto mais belo do céu.

O Douro visto daquele píncaro é o paraíso prometido em todas as lições da catequese.

É grandiosamente belo!

As montanhas entrelaçam-se, magníficas, para de repente, se escancararem em vales matizados com toda a paleta de verdes e castanhos que Deus inventou. E pelas encostas, as quintas vão pintalgando de branco o silêncio majestoso por onde o Rio serpenteia.”

Francisco Moita Flores

Retomo a estrada e desço até à beira rio, quase até ao nível da água, para de seguida começar uma subida que só termina no miradouro de S. Salvador do Mundo

3 – Miradouro de S. Salvador do Mundo

A paisagem é de esmagadora beleza, capaz de nos fazer parar o carro só para a contemplarmos sem distrações, e sem nos distrairmos na estrada, evitando colocar terceiros em risco. Lá ao fundo vislumbra-se a Barragem da Valeira e o histórico Cachão da Valeira, famoso por ter sido o local onde faleceu o Barão de Forrester. A linha do comboio acompanha o serpentear do rio por entre esta zona rochosa, e visto aqui de cima, uma pequena sombra com forma de uma seta na escarpa rochosa, parece apontar com precisão o local da saída do túnel do comboio que atravessa este enorme rochedo.

Barragem da Valeira

Daqui também se avistam alguns povoados e outros miradouros que dão cor a alguns pontos mais altos dos montes. Considerado o maior santuário do Douro Vinhateiro, é constituído por um conjunto de capelinhas que se erguem ao longo do monte. A partir daqui, é possível ver algumas zonas de vinha numa plantação mais linear, com as linhas de cêpas parecendo pentear a montanha num planalto que antecede S. João da Pesqueira.

Nota: Para chegar ao ponto mais alto deste miradouro os últimos metros são percorridos a pé.

S. João da Pesqueira fica a dois ou três quilómetros daqui e, com o relógio a passar o meio dia, eram horas de fazer uma pausa para almoço. Em tempos de pandemia as opções foram poucas, o único restaurante que encontrei aberto foi o Cantiflas. Após almoço começo uma nova descida de novo até ao rio Douro, até bem perto do nível da água, mais precisamente até à localidade do Pinhão. As encostas e a vinha são uma constante na paisagem desta região. Toda a beleza que os olhos alcançam é de difícil registo através da objetiva de uma maquina fotográfica. Por aqui começam também a avistar-se algumas das marcas de vinhos estampadas nos muros dos socalcos que sustém dois ou três metros de terra xistosa, o suficiente para duas linhas de cêpas de videira.

A estrada que percorro tem largura suficiente para as duas faixas de rodagem, mas não mais que isso, não permite estacionamentos na berma, como tal nem sempre é possível registar fotograficamente o que os olhos alcançam em circulação.

Chegando à estrada nacional 222, na sua parte mais famosa, (a melhor do mundo segundo a empresa que encomendou o estudo), atravesso o rio para a margem norte com objetivo de seguir até ao próximo ponto de visita. A travessia é feita na ponte sobre o rio Douro, projetada por Gustave Eiffel, que faz a ligação entre o concelho de S. João da Pesqueira com o concelho de Alijó. Esta ponte é a principal porta de entrada na Vila do Pinhão. Daqui, avista-se o cais fluvial onde grandes barcos de turismo aportam, após subida do Rio Douro desde o cais de Gaia. À sua volta a paisagem é característica da região envolvente, socalcos mostram-nos grandes vinhedos de inúmeras quintas que produzem o tão afamado Vinho do Porto.

4 – Miradouro de Casal de Loivos

A norte de Portugal, numa das zonas mais belas do país e do mundo encontra-se também o miradouro de Casal de Loivos, com vista privilegiada sobre o Douro vinhateiro. Segundo a BBC, este é um dos miradouros de onde se pode apreciar uma das seis paisagens mais belas do mundo.

À sua frente está uma das muitas curvas do rio Douro com a localidade do Pinhão sobranceiro, a foz do rio com o mesmo nome (rio pinhão), e a majestosa ponte que faz a travessia do Douro e ligação à estrada N222, também ela considerada por uma revista Inglesa como sendo a estrada mais bonita do mundo no troço entre a cidade da Régua e a vila do Pinhão.

Para chegar a este miradouro o ideal é seguir no sentido ascendente pela margem direita do rio Pinhão, cerca de 2 quilómetros mais acima vira à direita para Casal de Loivos. Segue pelas ruas estreitas desta população e irá deparar-se com o miradouro mesmo em frente ao cemitério desta localidade.

A partir do miradouro pode ver no outro lado do rio a quinta das Carvalhas, cuja entrada fica mesmo ali ao lado da ponte, na margem sul, e ouvir o apito do comboio que circula na linha do Douro, quebrando por breves segundos com seu som agudo o encanto em que se encontra.

Seja qual for a altura do ano a paisagem do Douro Vinhateiro é sempre deslumbrante.

De regresso ao Pinhão, atravesso o rio e percorro agora a famosa N222 em direção à cidade da Régua, no GPS marquei como destino o miradouro de S. Leonardo de Galafura, um dos mais emblemáticos senão mesmo o mais emblemático do Douro vinhateiro.

5 – Miradouro de S. Leonardo de Galafura

Apesar de existirem outras opções de trajeto nas quais evitava atravessar de novo para a margem sul, esta é sem duvida a preferida e aquela que eu recomendo. Pelo caminho, além dos vários pontos de interesse que certamente não vai querer perder, pode fazer paragem na barragem da Régua, ou barragem de Bagaúste se preferir, podendo ver alguma embarcação a subir ou a descer a Eclusa.

Se for um dia que se adivinhe de grande movimentação, aproveite e atravesse aqui o rio Douro para norte. Meia dúzia de quilómetros depois irá começar de novo outra subida que só termina com a chegara a Galafura, 2 km mais à frente encontra o miradouro de S. Leonado de Galafura, onde termina a subida e o roteiro descrito neste artigo.

Miradouro de S. Leonardo de Galafura

Este é um dos miradouros mais bonitos de toda a região Duriense, onde Miguel Torga “mergulhava” no rio e se embrenhava na paisagem magnânima deste “Doiro sublimado”, a quem num dos seus “Diários” chamou de “excesso de natureza”. Sobre uma pedra está registado um excerto da obra daquele que é considerado um dos maiores escritores portugueses do século XX, onde o Douro é uma presença constante.

Deste lugar contam-se lendas e histórias, que aumentam o encanto destas paragens. Este é um local de visita e paragem obrigatória para quem visita o Douro. O Monte de S. Leonardo está localizado a este do povoado de Galafura e a 566 metros de altitude.

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Apontamentos

  • Vídeo sobre o histórico Cachão da Valeira, local onde faleceu o Barão de Forrester.
  • Se for do seu interesse vir até à cidade de Lamego, recomendo vir da Régua com destino a Valdigem e apanhar a autoestrada precisamente onde cruza com ela, de seguida sai na primeira saída, a saída para Lamego. Procedendo desta forma não tem portagens a pagar. Para regressar procede da mesma forma (em sentido inverso), saindo na primeira saída que encontra, a saída para Valdigem.
  • Se dispuser de algum tempo e o clima permitir, não deixe de fazer um pequeno passeio pela beira-rio na cidade da Régua.

Localização – Mapa


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