Visitar Ançã

A vila de Ançã, inicialmente integrada no território de Coimbra, encontra-se sensivelmente a meio de uma linha imaginária traçada entre a cidade de Coimbra e a cidade sede do concelho a que pertence – Cantanhede, um dos concelhos que faz parte do território da Gândara, assim denominado pelas suas características de outrora. Geograficamente fica situada no extremo sudeste do concelho, no limite norte de um “ramal” dos campos agrícolas do baixo Mondego, entre a estrada nacional EN111 e a autoestrada A14, embora mais perto desta última.

Campos agrícolas do baixo Mondego

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Conteúdos deste artigo

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Ao visitar esta vila não é difícil perceber o quanto antiga será a sua existência, as fachadas de alguns edifícios situados na zona histórica da vila, os brasões, as construções em pedra e outras caraterísticas semelhantes são testemunho disso. A própria geometria das ruas também dá o seu contributo e, na sequência de algumas pesquisas, a informação encontrada corrobora-o. Segundo explorações e escavações realizadas em Ançã pelo ano de 1903, concluiu-se que esta localidade seria mais antiga do que por exemplo Montemor-o-Velho, colocando a possibilidade, embora remota, da sua origem ter ocorrido ao longo do século III.

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Segundo a lenda, na origem de Ançã estão oito monges Beneditinos que andaram por aqui muito antes de Portugal ser nação, (século VII) aos quais foi indicado um lugar com água em “abbondanza” por um bando de corvos que desceram à terra na claraboia de uma zona densamente arborizada. Ao verem tanta água os monges decidiram ali erguer um povoado, ficando como nome a terminação “anza”.

A possibilidade mais consistente revela que o nome terá vindo de Antiana, nome dado à vila de um senhor romano chamado Antius, tal como surge em documentos do século X. Com a desagregação do império romano o nome passou de Antiana para Anzana, progredindo para Ançãa e mais tarde Ançã, como é conhecida nos dias de hoje.

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Em 1371 D. Fernando eleva a localidade à categoria de vila e concede-lhe alguns privilégios, mas não lhe outorga qualquer foral, ficando a vila a reger-se pelo foral de Coimbra até lhe ser concedido o seu próprio foral, o que veio a acontecer em 1514 durante o reinado de D. Manuel. Após as invasões francesas dá-se o inicio do liberalismo e desencadeiam-se reformas administrativas, Ançã acaba por perder a sede de concelho e mais tarde a categoria de vila, vindo a recupera-la em 2001.

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Atualmente Ançã é uma localidade que vale bem a visita, o seu património histórico e religioso, a gastronomia, o laser e a doçaria tradicional, com destaque para o bolo de Ançã, são motivos suficientes para visitar esta vila. Destaque também para a Pedra de Ançã, embora numa visita normal não seja muito visível laboração da mesma. É uma pedra muito apreciada por escultores, por ser macia e fácil de trabalhar, bem como pela ausência de veios. Consta-se ter saído daqui muita dessa pedra para várias obras de arte, como por ex. o portal do Mosteiro da Batalha, ou o portal da Igreja de Sta. Cruz de Coimbra, entre outros… A pedra de Ançã também terá atraído a Coimbra muitos escultores, que nesta zona produziram obras notáveis de estatuária religiosa e tumular Portuguesa, como é o caso de N. Senhora do Ó, e o túmulo da Rainha Santa Isabel.

Arco de entrada no Terreiro do Paço

A vila de Ançã é uma localidade grande e, possivelmente, a mais desenvolvida do concelho de Cantanhede, é detentora de valioso património histórico, cultural e artístico. No dia em que visitamos Ançã não levamos a disponibilidade horária suficiente para o fazer, no entanto, no pouco tempo disponível foi possível perceber a sua grandeza, a sua pacatez e o quanto os seus habitantes são hospedeiros.

À chegada e ainda no carro, enquanto percorríamos a rua em andamento lento houve quem nos indicasse alguns lugares à sombra onde podíamos estacionar, um gesto pouco usual nos dias de hoje. Já dentro de um café local, que também era padaria, apesar de domingo era hora de algum movimento. Decidimos provar o famoso bolo de Ançã acompanhado de um cafezinho, antes de iniciarmos uma pequena caminhada pelas ruas de geometria variável que constituem a zona histórica.

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…pelas ruas de Ançã

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Paço do Marquês de Cascais

Situado entre o Terreiro do Paço e o largo do Pelourinho, este palacete foi outrora habitado pelo 1ª Marquês de Cascais, D. Álvaro Pires de Castro e Sousa, desterrado para Ançã em 1667. O palácio ainda hoje mantém as armas dos Castros esculpidas em pedra de Ançã, acompanhadas por um mote em latim que relembra o destino do Marquês. Este palacete é também conhecido por Palácio dos Donatários, onde no rés-do-chão se encontra instalado o posto de turismo, e onde uma senhora atenciosa nos deu todas as informações necessárias à visita que efetuamos.

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Terreiro do Paço

Com base na imagem que captamos no terreiro do paço, à data da visita o outono parecia ter chegado mais cedo, um efeito das alterações climatéricas, mas estávamos em meados de agosto. O Terreiro do Paço, na vila de Ançã, é um espaço urbano amplo e arborizado, e com piso em calçada portuguesa. O principal acesso faz-se pelos arcos do palacete, onde na zona inferior (num desses arcos) de encontra o posto de turismo. Os arcos servem de divisor entre o largo do Pelourinho e o Terreiro do Paço, que à data se encontrava repleto da “folhagem de outono”.

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Pelourinho de Ançã

Após o século XV os Pelourinhos passaram a ser considerados um símbolo da liberdade municipal de um concelho. Este era o local onde se aplicava a justiça, sendo habitualmente erguidos em frente ao edifício da Câmara Municipal. Desconhece-se a data em que o Pelourinho de Ançã terá sido erguido, no entanto este Pelourinho tem a particularidade de ser o único existente no concelho de Cantanhede, o concelho aonde atualmente pertence Ançã.

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Igreja matriz de Ançã

Dedicada a N. Senhora do Ó ou da Expectação, a Igreja Matriz de Ançã está classificada como imóvel de interesse público desde 1983. Possui uma fachada de grande imponência, datada de 1812, e é rica pela sua arquitetura bem como pelo enquadramento paisagístico onde se encontra erguida. O interior é composto por três naves separadas por duas arcadas assentes em colunas dóricas. O altar principal, de notável detalhe e beleza, foi esculpido em pedra de Ançã.

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Solar dos Neiva

Este edifício foi outrora o Solar dos Bandeira de Neiva, é um dos imóveis mais imponentes existente na vila de Ançã. Na fachada frontal destaca-se o brasão de armas e o magnifico portal em madeira na entrada principal. Apresenta ainda outros pormenores notáveis de construção, tais como o frontão da porta da sacada principal no primeiro piso, cornijas em pedra e a terminação dos cunhais pelo lado superior (telhado)

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Casa brasonada na Rua da Igreja

Num dos vértices do triângulo formado pela Rua da Igreja, Beco da Calçada e Rua Dr. Jaime Cortesão, fica uma casa brasonada, possivelmente do século XVII, cuja aparência nos permite acreditar estar ligada a alguma parte da história da Vila de Ançã, no entanto esta poderá ser apenas uma convicção nossa uma vez que não nos foi possível encontrar informação a esse respeito. No outro vértice fica o museu etnográfico, instalado numa casa outrora de habitação, de rés-do-chão e primeiro andar, cuja construção remonta a finais de século XVII. É possível visitar o museu mediante contacto prévio com o posto de turismo.

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Admirar a estátua de Jaime Cortesão

Busto erguido em homenagem a um filho da terra, Jaime Zuzarte Cortesão. Foi médico, poeta, político, escritor e historiador, um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. Nasceu na vila de Ançã e foi um dos grandes impulsionadores da participação cívica contra a ditadura militar, vendo-se obrigado ao exílio no Brasil a partir de 1927. Regressou a Portugal em 1957.

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Arquitetura histórica de Ançã

Admirar a arquitetura antiga e o casario no centro histórico, construções erguidas em datas cuja existência de meios, apesar de escassos, não foram impeditivos de erguer edifícios notáveis. Muita desta arquitetura tem um dos materiais autóctones na sua decoração, a Pedra de Ançã.

à direita, a Capela de N. Senhora das Mercês

Fonte dos Castros

A fonte dos Castros é uma das nascentes da Ribeira de Ançã, eventualmente a nascente principal uma vez que brota água à superfície em quantidade considerável durante o ano inteiro, existindo registo a rondar os vinte mil litros por minuto, embora na atualidade este número possa divergir para menos tendo em conta os últimos anos consideravelmente mais secos. Por trás deste fenómeno estará certamente alguma explicação geológica, possivelmente semelhante à nascente do Rio Alviela, nascente da qual jorra água à superfície em caudal bem mais elevado que o desta fonte.

Moinho de água Valfavas

A montante da nascente dos Castros existe um moinho conhecido por Moinho Valfavas. Este moinho tem como fonte de energia a força da água da Ribeira de Ançã que vem das nascentes situadas a montante desta vila, como por exemplo a nascente conhecida por Olho de Grota, situada próximo da localidade de Portunhos, sendo também conhecida por “Olho d’água de Portunhos”.

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Moinho da Fonte – Ribeira de Ançã

Face às características e distância entre ambas as nascentes (Olho de Grota e Fonte dos Castros) acredita-se que elas possam ter alguma ligação entre si, podendo ambas ser drenos de um lençol de água no subsolo com cerca de 3km de extensão, ou talvez mais, cujas nascentes param de brotar consoante a sua altitude. A jusante da nascente dos Castros encontra-se um outro moinho, o Moinho da Fonte, cuja força motriz vem exclusivamente da força da água desta nascente e do seu generoso caudal. Este moinho, que pode ser visto a laborar em visitas guiadas(*), encontra-se entre a nascente dos Castros e um “pequeno paraíso” aqui existente, que é também um orgulho para esta localidade, a Praia Fluvial de Ançã.

(*) para o efeito deverá recolher informações a esse respeito junto do posto de turismo.

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Praia fluvial de Ançã

Considerada uma das mais bonitas da região centro, a piscina natural de Ançã, ou praia fluvial, como preferir, encontra-se inserida na Ribeira de Ançã, num espaço que envolve a Fonte dos Castros (que alimenta a praia fluvial) e o Moinho da Fonte, um local pitoresco e com pouco estacionamento, mas de beleza ímpar e completamente inserido na paisagem.

A atribuição do galardão pela Quercus como praia fluvial com “Água Qualidade de Ouro” resultou numa mais valia para este espaço, o que se traduz num importante polo de atração turística nos meses de Verão. Dispõe de água clara e límpida sempre em constante renovação, que provém de uma nascente de caudal elevado existente alguns metros mais acima, conhecida por Fonte dos Castros, coberta com uma cúpula mandada construir em 1674 pelo Marquês de Cascais, Senhor da vila de Ançã.

Junto aos muros que ladeiam esta cúpula existem uns bancos capeados de pedra que outrora serviam de poiso aos canecos, antigamente em madeira e mais recentemente em chapa, usados pelas moças para levar água para suas casas, sendo ao final da tarde também local de encontro (algumas vezes combinado) com os moços da terra, que num gesto de galanteio as ajudavam a colocar os respetivos canecos à cabeça.

Tendo em conta ser uma nascente de caudal elevado e a praia fluvial estar a poucos metros da nascente, as águas desta praia fluvial são um tanto frias, uma característica comum nas praias fluviais com nascentes deste género.

A piscina que constitui esta praia fluvial dispõe de zona adequada para crianças, com menos profundidade, e como apoios balneares existe nadador salvador, zona relvada, bar, restaurante (Quintal da Fonte) e algumas sombras, a que se deve juntar o maravilhoso cenário envolvente, formando este conjunto um pequeno paraíso.

Compilação de alguns comentários virtuais sobre a Praia Fluvial de Ançã

  • “Parque com piscina bar casa de banho. Com imensas condições numa vila simpatica”
  • “Excelente local para desconfinar a mente e o corpo.”
  • “Lugar bonito e bem organizado. Gostei fui apenas pra conhecer, logo em breve iremos pra entrar na água.”
  • “Sitio muito aprazivel e bem cuidado. Calmo e sossegado. Muito bom para uma experiência de praia diferente.”
  • “Lugar de uma beleza pitoresca, único. Piscina natural gelada, mas muito, muito agradável.”
  • “Um cantinho maravilhoso,com Tudo de bom que a natureza tem,muito bem preservado ,tudo tão perfeito, um encanto perfeito,ançã esta de parabéns por esta maravilha .”
  • “Zona muito fresca, água muito limpa e com muita segurança. Vale a pena visitar com o fato de banho”

Fonte dos comentários: guiaempresas.pt

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Parque verde S. Facundo

Se for sua intenção almoçar ou lanchar por aqui ao ar livre, tem algumas opções tipo pic-nic que pode usufruir. Uma delas é o parque de merendas dos Fornos da Cal, situado no limite mais próximo da autoestrada A14. Outra opção é o santuário da capela de S. Bento, localizada ao lado do complexo desportivo. Eventualmente o melhor de todos fica a meio do percurso entre a estrada nacional EN111 e a vila de Ançã, à beira da estrada nacional N234-1, um espaço que nos pareceu acolhedor e do qual gostamos muito: o Parque verde de São Facundo.

Outros pontos de visita que lhe podem interessar

Espaços Religiosos:

  • Capela de São Sebastião;
  • Capela do Espírito Santo;
  • Capela de Nossa Senhora das Mercês ;
  • Capela do Senhor da Fonte, junto à fonte dos Castros;
  • Capela e santuário de São Bento.

Artesanato em Ançã:

  • Cantaria – Arte relacionada com o trabalhar da pedra. Chama-se também cantaria à pedra depois de trabalhada minuciosamente ao ponto de ficar com relevo muito fino.
  • Tanoaria – Arte de trabalhar a madeira com vista a fazer vasilhame para vinho, – Pipos.
  • Cestaria – Construção de cestas em verga, normalmente em madeiras flexíveis, como por ex. o salgueiro negro.
  • Latoaria / Funilaria – Arte de trabalhar a chapa, normalmente chapa zincada para vasilhame (canecos de água, medidas para líquidos, funis em chapa, etc…)
  • Olaria – Oleiros, arte de trabalhar o barro.
  • Ferro Forjado – Ferro moldado a quente, depois de aquecido a carvão na forja.

Localização

Para chegar a Ançã é bastante fácil. Pode apanhar a autoestrada A1 e de seguida mudar para a A14, saindo na saída para Ançã. Se preferir as estradas nacionais siga pela N1 e na zona de Coimbra mude para a nacional EN111. Em Geria apanhe a nacional EN234-1 no sentido norte, irá direto até Ançã. Outra opção é apanhar a EN109 e na Figueira da Foz apanhar a EN111…(…)


  • Se pertente alojamento próximo da Vila de Ançã veja aqui algumas opções.
  • Quando andar em visita por esta zona não deixe de ir até ao Mosteiro de S. Marcos, um lugar que vale a visita, caso tenha a sorte de encontrar o espaço aberto ao público no momento.

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Bem Haja…

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