Passadiços do Távora -Vila da Ponte

De entre as várias curiosidades ou acontecimentos inusitados que fazem parte da história de Portugal, como por exemplo: Lisboa ser mais antiga do que Roma; Badajoz ter sido capital de metade do país; ou a cidade brasileira Rio de Janeiro ter sido capital de Portugal, quando a família real se refugiou por lá das invasões francesas…(…), ter existido um município constituído por uma única freguesia acaba por ser algo menos surpreendente do parece, é o caso de Vila da Ponte.

-Independente da data, das condições climatéricas ou da estação do ano, pegue os indispensáveis, coloque no papel os seus planos e faça-se à estrada. Portugal tem muito para conhecer.

Conhecida como a Pérola do Távora, Vila da Ponte é atualmente uma freguesia pertencente ao concelho de Sernancelhe. Fica situada à beira da estrada nacional N226, a pouco mais de um quilómetro da albufeira do Vilar, tendo sido em tempos longínquos vila e sede de um concelho constituído apenas pela própria freguesia, ou seja, uma única. O seu nome deriva de uma ponte que por la existiu em cantaria, um tipo de pedra que depois de minuciosamente trabalhada passa a ser conhecida por esse nome: cantaria, ou pedra cantaria. No entanto, sendo objetivo principal deste artigo falar sobre os passadiços recentemente construídos no rio Távora, nas margens da albufeira existente nesta localidade, a sua história ficará para outro artigo a publicar posteriormente.

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Conteúdos deste artigo

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Vila da Ponte

Barragem do Vilar

A barragem do Vilar fica no rio Távora junto à fronteira que divide os concelhos de Sernancelhe e de Moimenta da Beira. Foi construída com objetivo de regularizar os caudais do rio Távora, criando uma albufeira que serve para abastecer a central hidroelétrica de Tabuaço, sendo atualmente também utilizada para captação de água destinada ao abastecimento público. As águas da zona balnear desta albufeira foram consideradas “poluição zero” em 2017 pela associação ambientalista ZERO, numa altura em que só outra no interior do país e no mesmo ano teve classificação igual: a barragem de Castelo de Bode, a mesma de onde atualmente é captada água para abastecer Lisboa.

Albufeira do Vilar

Em 2011, a montante desta albufeira, foi construída uma represa de dimensões mais reduzidas que retém a água junto à Vila da Ponte, onde, além de trazer consigo novas espécies de aves, permitiu criar condições para a prática de desportos e outras atividades náuticas, bem como para a existência de uma praia fluvial junto da população, tendo sido construídos recentemente nas suas margens uns passadiços em madeira conhecidos como Passadiços do Távora.

Os passadiços

Segundo informações em placard afixado no inicio dos passadiços, a sua construção teve o apoio financeiro maioritário do programa Portugal 2020, que, segundo o mesmo placard, o dito programa tem como objetivo, e passo a citar: “promover o emprego e apoiar a mobilidade laboral”. Acredito que a criação de emprego resultante da construção destes passadiços em particular seja diminuta. Na opinião do autor deste blogue, estes passadiços encaixam-se melhor no sentido de acrescentar condições de lazer ao espaço envolvente, do que atrair turismo ao ponto de gerar postos de trabalho.

Com uma extensão longitudinal de aproximadamente 2 quilómetros e a generosa largura de 2,5 metros, estes passadiços foram até agora os mais largos que percorri do total de mais de uma dezena, e também os que foram construídos onde menos se justifica a sua existência, não pela paisagem e lugar, que considero dignos de visita e convidativos a momentos de lazer, mas pelas condições do terreno onde os mesmos foram construídos. É um lugar que não apresenta irregularidades, declive ou matagal impeditivos à existência de um percurso pedonal melhorado, podendo a verba financeira ter sido utilizada de forma mais proveitosa, construindo passadiço apenas onde se justificava. Desta forma poderíamos ver a sua extensão aumentada e, por consequência, ser um percurso mais atrativo para quem visita a zona.

Em resumo, destruiu-se a natureza na obtenção da madeira, posteriormente invadiu-se a natureza na colocação da mesma, neste caso de forma exagerada e sem necessidade ou justificação aparente. Um exemplo do que acabo de defender seria a continuação do PR4 até ao observatório de aves, na margem oposta, após a travessia da ponte pedonal. Na continuidade do percurso não foi construído qualquer passadiço pelas margens da albufeira, tendo sido opção um percurso pedonal térreo.

Aracnídeo

No entanto, os cantos e recantos desta albufeira, apresentam características convidativas a momentos de laser em qualquer altura do ano, quer seja para desportos náuticos, para pesca desportiva, para pic-nic em família, ou simplesmente para caminhar à beira deste espelho de água. Por aqui não será difícil conseguir fotografias que se assemelhem a autênticos postais.

Fauna e Flora

Ao longo dos passadiços, a arborização principal existente é o pinheiro bravo. Junto às margens da albufeira o salgueiro negro, e um pouco mais afastado aparecem os carvalhos.

O Salgueiro negro é uma árvore de folha caduca que prolifera muito bem em terrenos húmidos, como por exemplo nas margens de rios ou ribeiros, nas margens de represas (como é o caso), ou em zonas onde o solo tenha humidade suficiente para saciar os requisitos de água que esta árvore requer. Aqui pela beira-alta diz-se até que solo onde exista um salgueiro, existem fortes possibilidades de haver água no seu subsolo, sendo certo que um poço aí aberto teria nascente de água a baixa profundidade.

Salgueiro negro

Com a existência desta espécie de árvore nas margens desta albufeira, existem também grandes possibilidades de se encontrar por aqui uma ave canora de canto melodioso, que tem o nome de Rouxinol, uma vez que a existência desta árvore é sinónimo também da existência de condições ambientais e de coabitação desta espécie de ave. É uma ave de canto muito agradável de ouvir, além de uma característica muito própria: não tem hora certa para cantar, canta a qualquer hora do dia ou da noite.

A vegetação predominante por aqui é a giesta, a urze, a esteva e o queiró. Pelo meio do pinhal e dos arbustos, debaixo da turfa formada principalmente pela caruma que os pinheiros vão largando ao longo do ano, é habitual encontrar míscaros e cogumelos de espécies diversas.

Os cogumelos silvestres já são usados na cozinha tradicional por diversas culturas à várias dezenas de anos. No entanto, por existirem espécies extremamente tóxicas, nem sempre reuniram consenso na sua utilização em culinária. À data da visita, na zona de pinhal era visível o solo remexido após ter sido efetuada busca e colheita das espécies comestíveis. As não comestíveis mantinham-se agarradas ao solo, contribuindo para a riqueza vegetativa deste lugar.

A visita a este lugar foi muito agradável de fazer, embora o mês de Dezembro não é o mais adequado para observação da fauna e flora existentes por aqui. Ainda assim foi possível avistar algumas espécies de aves, embora poucas. Entre elas o corvo marinho, o cartaxo e o pato bravo fêmea, os machos andaram evasivos…

Lamentavelmente, nestes passadiços devo destacar (pela negativa) a quase ausência de informação relativa à fauna e flora existentes na zona, tendo sido colocado apenas um placard, sensivelmente a meio do percurso dos passadiços com informação generalizada referente ao tipo de arborização e alguma vegetação existente, no entanto, o lugar terá certamente muito mais do que a informação descrita no placard.

A outra margem

A continuidade dos passadiços leva-nos a uma ponte pedonal que atravessa uma linha de água, que após a construção do açude ficou “submersa”, sendo agora parte integrante do açude. Na outra margem continua o PR4, que tanto pode ir até Freixinho, uma localidade com muito para ver e sobre a qual espero voltar a falar futuramente, como pode também seguir em direção ao observatório de aves, na margem oposta, existindo até ele duas opções de percurso: Ou no sentido horário, seguindo o PR4 pela margem até ao observatório, ou no sentido anti-horário, seguindo em linha com a ponte até encontrar a cortada para o observatório (aracnídeo), direcionando aí a caminhada no sentido da margem da albufeira.

Ponte pedestre – continuidade do PR4

Numa ou noutra situação, até chegar ao observatório de aves a albufeira vai situar-se à sua esquerda, havendo fortes possibilidades de encontrar corvos marinhos próximos das margens a repousar em cima de alguma rocha, algumas vezes com as asas abertas.

Seguindo em linha com a ponte, ao longo do percurso encontrará pomares de macieiras e pessegueiros, com a vinha a secundar a agricultura existente por aqui. Não devemos esquecer que estamos nas margens do rio Távora, uma das poucas zonas com a designação VQPRD referente qualificação de vinhos. (Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada).

A vinha com um tipo de poda característico, conhecido em alguns lugares da beira-alta como poda talão.

O observatório de aves apresenta um design tanto original, como moderno, fazendo parecer-se com uma aranha gigante, de onde terá vindo a origem do nome, “Aracnídeo”. É um observatório que apaixona pelo seu design, mas deixa comprometida a sua funcionalidade. Além de não ocultar devidamente o vulto humano, para dessa forma permitir que as aves se aproximem e sejam observadas mais de perto, o lugar onde foi colocado fica demasiado distante da água, tornando quase impossíveis os objetivos para os quais foi construído. A deslocação do mesmo para mais perto da água, bem como ligeiras melhorias na estrutura (na ocultação do corpo humano), sem prejudicar o seu design, fariam deste “aracnídeo” um ícone na observação de aves…

Observatório de aves – “aracnídeo”

Ficha Técnica

  • Extensão aproximada – 2 km
  • Duração estimada – 1,5 horas para os passadiços.
  • Tipo de percurso – Ida e volta. (não encontrei informação referente ao PR4)
  • Grau de dificuldade – Reduzido/nulo
  • Desnível entre altitude superior e inferior – 2 a 3 metros
  • Comentário – se for sua intenção percorrer apenas os passadiços, à saída da ponte pedestre siga linearmente (em frente) até encontrar o corte para o observatório de aves, posteriormente siga em direção ao observatório e depois pela margem de novo até à ponte, é em minha opinião o sentido preferencial.

Como chegar aos Passadiços do Távora.

Para quem não utilize o GPS, a melhor maneira de chegar aos Passadiços do Távora é vir em direção a Moimenta da Beira, e aí apanhar a estrada nacional N226. Tomando como referência Moimenta da Beira, segue para sul pela estrada N226 e ao fim de aproximadamente 4 a 5 km irá encontrar o corte para Vila da Ponte, podendo até ver os passadiços à sua esquerda antes do referido corte.

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Onde almoçar em Vila da Ponte

Face à situação pandémica que atravessamos, o restaurante escolhido para almoço foi o Pica-Peixe em Vila da Ponte, que teve a gentileza de servir o almoço na explanada uma vez que as regras do governo atual em funções assim determinavam a quem não estivesse vacinado. O prato escolhido foi bacalhau à casa, acompanhado com vinho branco e outros produtos da região. Entre eles a couve de corte, que em algumas localidades da beira-alta é também conhecida pelo nome de “troncha”.


Outros locais de interesse turístico na zona.


Freixinho

Uma localidade situada mesmo à beira da Albufeira do Vilar que encanta por vários motivos: pela paz que se sente por aqui, pela presença do granito na maioria das suas edificações, pelas edificações ligadas à religião cristã,… e também pelo por do sol que se pode contemplar a partir da margem da albufeira nesta zona.

Miradouro e Santuário da Senhora das Necessidades

Um local de culto onde reina a paz e a tranquilidade, equipado com espaços de laser, e onde se podem ver alguns “grafitis” inspiradores ligados à religião cristã, escritos nas rochas. É também um miradouro de onde se obtém uma vista maravilhosa sobre Vila da Ponte, Freixinho, Barragem do Vilar, albufeira de Vila da Ponte,… entre outros lugares nas proximidades…

Fonte de Penso

Pode aproveitar e refrescar-se na pureza das águas da fonte de Penso, que, segundo dizem os seus habitantes, é uma fonte de nascente que nunca seca.

Visitar o santuário da Sra. da Lapa

O Santuário da Sra. da Lapa é um Santuário envolto em várias lendas que o tempo não apagou. Entre elas o achado de Nossa Senhora pela pastorinha Joana, entre as rochas, onde se encontra erguida a capela. Também a passagem entre duas rochas existentes no interior da capela, possível apenas a quem não tem pecados. A morte do crocodilo na Índia por um homem devoto de N. Sra. da lapa, ou a morte de um enorme sardão por uma tecedeira que caminhava pela serra da lapa, usando para o feito os novelos de trapos que trazia consigo é outra das lendas.

Castelo do Adriano

Ao passar na estrada que faz a ligação de Sernancelhe com V. Nova de Paiva, é quase impossível passar despercebido ao Castelo mais insólito de Portugal, que ao longo dos anos tem vindo a ser construído por Adriano Santos, um homem nascido na localidade de Leomil, no concelho de Moimenta da Beira, mas que se fixou no Carregal por la ter casado, conseguindo aos poucos, com as suas próprias mãos e o seu próprio esforço, realizar o sonho de um dia ter um castelo. O edifício encontra-se inacabado mas a sua construção está já em fase bem adiantada.

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Para os amantes da hotelaria de ar livre, nesta zona, junto à Albufeira do Vilar existe parque de campismo, e nas proximidades o parque aventura e bar cronicas da Terra


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Bem Haja…

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