Passadiços e Trilhos do Oeste

Com partida e chegada na praia de Paredes da Vitória, município de Alcobaça, os trilhos PR 16, PR 18 e o trilho entre Agua de Medeiros e S. Pedro de Möel (no concelho vizinho), levam-nos a conhecer algumas das praias da região onde a paisagem conjuga o verde do pinhal com o cinzento das arribas, o dourado do areal, e o azul do mar – presença constante em todo o percurso. Faça-se à estrada e venha daí percorrer estes trilhos, embalados pela melodia das ondas e com o oceano no horizonte…, localizados na crista das arribas, enfeitados pela flora marítima da região onde o aroma do pinho se mistura com a maresia do oceano.

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Conteúdos deste artigo

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Além do exercício físico, este percurso oferece também a oportunidade de relaxar e desfrutar de alguns dos belos momentos que a orla costeira nos proporciona. Fazem parte do cardápio caminhar descalço na areia, molhar os pés na água salgada, sentir a brisa marítima e o gralhar das gaivotas,… e terminar a tarde com um chá à beira mar enquanto o sol se esconde devagarinho para lá do horizonte. Acompanhe-nos, siga as nossas orientações e parta à descoberta de emoções fascinantes.

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Ponto de partida – Paredes da Vitória

Paredes da Vitória é uma praia marítima do tipo urbana, pertencente ao município de Alcobaça, situada alguns quilómetros para norte da Nazaré. A sua existência remonta ao ano de 1282, por ordem do Rei D. Dinis, erguendo aqui um povoado que pudesse defender o território local da pirataria Africana e Granadina. Em 1368 D. Fernando doou esta localidade ao mosteiro de Alcobaça, com o objetivo das suas rendas recaírem a favor da salvação da alma do seu pai, sepultado neste mosteiro (imagine-se…). Anos volvidos, devido ao assoreamento a que Paredes da Vitória esteve sujeita, a população começa a decrescer e em 1527 contabilizava apenas 27 fogos, um decréscimo considerável se tivermos em conta os 600 fogos que chegou a atingir desde a sua origem e enquanto vila medieval.

Vestígios de existência da vila medieval de Paredes da Vitória

Pela década de 90 do século passado esta praia contabilizava apenas 50 moradores, tendo a partir daí começado a ser progressivamente procurada por veraneantes, pela qualidade e beleza da paisagem mas também das infraestruturas, o que tem permitido a sua manutenção, encontrando-se atualmente equipada com restaurantes, bares de praia e algum alojamento local, onde se inclui um generoso parque de campismo. A esta procura devemos juntar outras praias limítrofes com qualidade semelhante, embora algumas do tipo “não urbanas”.

Parque de merendas próximo da Capela de N. Senhora da Vitória

Este percurso pode ser percorrido em uma, duas, ou três etapas, ficando a cargo do leitor a opção sobre qual delas percorrer, ou se as três etapas seguidas e de uma só vez. O tempo que leva disponível e o gosto em caminhar por este tipo de trilhos são fatores a ter em conta. Nós começamos em Paredes da Vitória, caso não seja do seu agrado pode começar na Pedra do Ouro (a meio do percurso), ou em S. Pedro de Möel (no extremo norte). Fora da época balnear não é difícil conseguir estacionamento por aqui.

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Mina do Azeiche (PR 16 ACB)

Localizada a sul da praia de Paredes da Vitória, a Mina do Azeche(*), ou se preferir do Azeiche, embora em pesquisas virtuais não se encontre significado desta última, constituiu outrora um caso pioneiro de extração de betume e asfalto usado à época. Considerada a primeira exploração de hidrocarbonetos em Portugal, teve o seu inicio em 1843 e veio a encerrar em 1848 devido à falta de rentabilidade.

(*) terra escura, também chamada de Terra de Sevilha

Toponímia local cujo nome descende da existência na mina.

Em 1856 foi formada nova sociedade e retomados os trabalhos. Durante esta concessão foi construído um complexo industrial onde se inclui a fábrica da Mina, que albergava diversa maquinaria para destilação do asfalto, fornos de cal e telha, casas para os mineiros e uma fábrica de produtos químicos, esta última onde se encontra a atual Discoteca Mina. Em 1861 os trabalhos foram novamente suspensos e desta vez em definitivo, provando novamente a falta de rentabilidade da Mina

Entrada para a mina.

Durante o século XX houve algumas prospeções por uma equipa de engenheiros ingleses, nas quais se destaca uma intervenção em 1933 com a abertura de novas galerias e poços, concluindo-se a dispersão dos bancos de asfalto, prevalecendo a decisão de manter a mina fechada. Desde essa data o mar foi-se apoderando da costa, tornando as arribas instáveis e dificultando o acesso à zona. Hoje restam as ruínas da exploração mineral que existiu outrora levada a cabo pelo suor e esforço dos homens de outros tempos.

Ruinas do forno da telha
  • Em dias chuvosos não é recomendado percorrer este trilho na parte da descida que leva os caminhantes até às ruínas da mina, o solo, maioritariamente argiloso, fica demasiado escorregadio podendo originar graves acidentes.
Trilho de acesso às ruinas da minha do Azeiche. Não recomendável percorrer em dias de chuva!

Paredes da Vitória – Água de Madeiros (PR 18 ACB)

Junto à ribeira que aqui desagua inicia o trilho seguinte, PR 18. Do conjunto destes trilhos este é o mais longo, mas também o mais aliciante. A parte inicial começa com a subida à capela de N. Senhora da Vitória, por uma escadaria de madeira localizada à direita após a subida asfaltada. Acredita-se que a existência desta capela seja bem antiga, provavelmente do século XIII ou XIV, tendo sido destruída por um incêndio em 1909 e reconstruída nos meses seguintes.

Do lado oposto, o miradouro na arriba permite vista privilegiada sobre o mar e sobre grande parte do povoado, e alguns metros mais acima começa uma parte de passadiço que levará até à plataforma de lançamento dos amantes de parapente. Se for num dia com alguma brisa pode ser agraciado com o voo de alguns praticantes desta modalidade.

Zona norte da praia de Paredes da Vitória, à direita o chamado castelo das Paredes

A vista aqui de cima é soberba, e o mar imenso. Para norte, ali mesmo ao lado a praia da Polvoeira, chamada assim por ser local onde habitualmente se costumam apanhar polvos no meio das rochas, na zona mais a norte desta praia. Daqui em diante o percurso tem menos para descrever e mais para ver, e sentir, e respirar esta fragrância que vem do pinhal e se mistura com a brisa marinha. Em dias de ar limpo, a partir daqui poderá avistar o farol de S. Pedro de Möel.

A primeira parte do percurso alterna entre os passadiços e a pista ciclo-pedonal localizada à beira da estrada do Atlântico. Posteriormente o trilho continua pelo aceso à praia da Polvoeira, e após entrar nele volta a dirigir-se para norte, seguindo por um carreiro arenoso que levará até à Pedra do Ouro, mais precisamente à estrada de acesso à praia desta localidade, uma praia do tipo urbana e de arribas cinzentas, para as quais existe explicação geológica.

Pedra do Ouro

Fornos de cimento da Pedra do Ouro.

As caraterísticas geológicas do litoral nesta zona, mais precisamente aqui em Pedra do Ouro, freguesia de Pataias, permitiram que se desenvolvesse a atividade de produção do cimento Romano, cujo nome deriva da sua resistência em comparação com as argilas utilizadas pelos romanos.

Pedra do Ouro

Os primeiros fornos construídos aqui para exploração desta industria datam de 1861, curiosamente no mesmo ano em que a mina do Azeche cessou funções, o que nos leva a concluir a existência de várias iniciativas industriais nesta zona. A ultima referência à sua exploração data de 1918, restando atualmente as ruínas de três fornos, e do moinho usado para moer o cimento.

A praia da Pedra do Ouro é um povoado ainda recente, como é possível perceber pelo design e aparência suas edificações. O acesso balnear faz-se por uma estrada asfaltada e posteriormente por uma escada em betão. É uma praia pouco frequentada, possivelmente devido à quase inexistência de estacionamento para quem vem de fora.

Acesso à praia da Pedra do Ouro

O trilho atravessa a população e segue de novo por caminho arenoso, denominado Alva de Água de Madeiros, até chegar à estrada de acesso de um pequeno povoado com o mesmo nome, Água de Madeiros, ou praia da “pedra lisa”. Esta localidade tem a particularidade de pertencer a dois municípios: A primeira parte, onde acabou de chegar, ao município de Alcobaça. A segunda parte, localizada na margem norte do ribeiro que a atravessa, ao do município da Marinha Grande.

É nesta parte do percurso, nos solos de areia praticamente estéreis que ficam entre a Pedra do Ouro e S. Pedro de Möel, que irá encontrar as “serpentes de pinho”, pinheiros com formas e geometrias irregulares (porte serpentínico), causadas pela ação agressiva da maresia e dos ventos marítimos. Toda esta faixa costeira possui grande qualidade visual e paisagística, com o mar sempre ali pertinho, a poucos metros.

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Água de Madeiros – S. Pedro de Moel

Após passar Água de Madeiros encontra uma zona denominada por Valeiras, ou praia das Valeiras, uma praia selvagem cujo acesso de pode fazer a pé ou em veiculo off-road. Esta parte do percurso não se encontra sinalizada, tornando-se necessária a sua intuição, ao mesmo tempo que segue paralelamente ao som das ondas do mar.

O percurso termina com a chegada ao miradouro localizado no passadiço a sul da vila de S. Pedro de Möel, uma localidade bonita que vale a pena percorrer e sobre a qual pode encontrar alguma informação aqui.

Tal como referido anteriormente, este é um dos locais onde pode iniciar e terminar o percurso, com um café ou um chá à beira mar tal como descrito anteriormente, “enquanto o sol desce devagarinho e se esconde para lá do horizonte”.

Apesar de ser um percurso linear, para regresso ao ponto de partida tem várias opções:

  • Se a maré estiver baixa pode seguir pelo areal junto ao mar
  • Pode retornar pelo trilho que percorreu até aqui
  • Pode retornar ao ponto de partida pelo percurso ciclo-pedonal à beira da estrada do Atlântico
  • Ou pode chamar um táxi e retornar de automóvel.

Como chegar – Localização

Para chegar a Paredes da Vitória, município de Alcobaça, pode apanhar a A8 e sair com destino a Nazaré. Nesta localidade apanha a estrada do Atlântico e segue para norte até Paredes da Vitória. Se for sua intenção começar pelo extremo norte pode sair da A8 na Marinha Grande e seguir em direção a S. Pedro de Moel. Esta zona fica localizada a sul de S. Pedro do Moel e a 11 km para norte de Nazaré

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Ficha Técnica dos percursos

Mina do Azeiche (PR 16 ACB)

  • Localização: Concelho: Alcobaça. Freguesia: União de Freguesias de Pataias e Martingança
  • Tipo de circuito: Pequena Rota linear
  • Sentido aconselhado: ida e volta
  • Ponto de Partida e Chegada: Paredes da Vitória
  • Coordenadas GPS: Latitude / Longitude: 39.70092563, -9.04832232
  • Extensão total aproximada: 3.2 km
  • Duração aproximada: 1h
  • Altitude: Máxima: 65 m, Mínima: 14 m
  • Grau de dificuldade: II – fácil
  • Época Aconselhada: Todo o ano. Em dias chuvosos não é aconselhável a realização do percurso.

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Passadiços de Paredes da Vitória e trilho de Água de Madeiros (PR 18 ACB)

  • Localização: Concelho: Alcobaça. Freguesia: União de Freguesias de Pataias e Martingança
  • Tipo de circuito: Pequena Rota linear
  • Sentido aconselhado: ponteiros do relógio
  • Ponto de Partida e Chegada: Avenida Nossa Senhora da Vitória, junto à Capela ou junto ao ribeiro
  • Coordenadas GPS: Latitude / Longitude: 39.70611623, -9.04900408
  • Extensão total aproximada: 8,7 km
  • Duração aproximada: 3h
  • Altitude: Máxima: 59 m, Mínima: 30 m
  • Grau de dificuldade: II – fácil
  • Época Aconselhada: Todo o ano.

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Trilho S. Pedro de Möel a Água de Madeiros (rota das camarinhas)

  • Localização: Concelho: Marinha Grande, freguesia de Marinha Grande
  • Tipo de circuito: Pequena Rota linear
  • Sentido aconselhado: ponteiros do relógio
  • Ponto de Partida e Chegada: Miradouro de S. Pedro de Möel
  • Coordenadas GPS: Latitude / Longitude: 39.752387, -9.032492
  • Extensão total aproximada: 3,3 km
  • Duração aproximada: 1,5h
  • Altitude: Máxima: 50 m, Mínima: 30 m
  • Grau de dificuldade: II – fácil
  • Época Aconselhada: Todo o ano.

Outras Imagens

Fotos legendadas referentes a este percurso e zonas envolventes.

Praia de S. Pedro de Moel em dias de maré baixa.
Vivenda em S. Pedro de Moel
Vegetação – Urze
Praia da Polvoeira – Passadiço
Vegetação – Corema Album, conhecida localmente por Camarneira cujo fruto tem o nome de camarinha, amadurece no final do verão, é rico em água e açúcar e apreciado localmente.
Praia de Paredes da Vitória em dias de maré baixa – lado norte

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Alojamento

Se pretende alojamento nas proximidades Seguem algumas sugestões:

Albergaria da Pedra do Ouro, em local sossegado e com vista para o mar

Hotel Miramar, em S. Pedro de Moel e com excelentes vistas e vistas para o mar

Hotel Mar e Sol & Spa, bem localizado e excelentes vistas para o mar, embora em local não muito sossegado

Parque de campismo Campigir, a meia dúzia de passos da praia, frente ao farol de S. Pedro de Moel

Casa Faria em Paredes da Vitória, bem localizado e vista para o mar

Parque de campismo Paredes da Vitória, junto à estrada do Atlântico


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