Ecovia do litoral – Passadiços

Da Paramos* à Ponte de D. Luís

Estamos em Dezembro e com o habitual clima típico de fim de ano onde a chuva e o frio marcam presença, e de entre as atividades possíveis de fazer nesta altura do ano, uma das mais agradáveis é sem duvida uma caminhada à beira mar num dia soalheiro, que pode ser convertida em aventura quando o desafio é mais elevado ou mais aliciante, quer seja pelas condições climatéricas, pela distancia a percorrer, ou ainda pela localização geográfica.

* – Localidade situada junto à Barrinha de Esmoriz (lado norte)

Pequenas recomendações

Antes de continuar e para quem não esteja habituado a estas andanças, é recomendável alguma prevenção antecipada. Usar calçado confortável que já tenha usado algumas vezes, vestuário condizente,… e levar consigo apenas o indispensável: Uma garrafa de água de meio litro, qualquer coisa para comer,… e o telemóvel com a bateria carregada que, além de lhe permitir manter-se contactável, serve também para pedir socorro, se for o caso, ou se encontrar alguém que dele necessite,… e porque não também para registar ou fotografar o que de mais relevante encontre pelo caminho.

Há já algum tempo que esta era uma aventura agendada sem data marcada. Para a realizar no Verão, apesar do percurso ser todo à beira mar, ainda assim poderia ser desconfortável devido ao calor que se faz sentir nessa altura do ano, ao qual se deve juntar a maior quantidade de pessoas nesta zona nos meses de Verão uma vez que é o concelho com mais praias ostentando a bandeira azul, o concelho de Vila Nova de Gaia, como tal, realizar nesta data acabou por ser uma decisão acertada.

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Conteúdos deste artigo

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Segundo informação obtida pelos meios virtuais o passadiço entre Espinho e Gaia conta com uma extensão de 15 km, a que se devem juntar mais 3 km uma vez que comecei em Paramos, uma localidade situada a norte da Barrinha de Esmoriz.

Chegado ao local, com algum atraso habitual nestas andanças ainda houve tempo para um ligeiro pequeno almoço com um cheirinho a mar num café ali pertinho da Capela de N. Senhora da Aparecida, protegida do mar pelo pontão sobranceiro às ondas que nele rebatem.

Inicio a caminhada alguns minutos antes das 9 horas da manhã. Na sacola, alem dos indispensáveis levo também uma t-shirt, e a máquina fotográfica que desde cedo passou a seguir pendurada ao pescoço, desta forma estaria sempre pronta a usar a qualquer altura, minimizando as percas de tempo ao longo da caminhada. Daqui para a frente foi caminhar, e desfrutar da paisagem que foi obtendo pelo caminho.

Na primeira parte do percurso passei pelas praias de Espinho, Brito, Granja, Aguda, para de seguida chegar à capela do Senhor da Pedra, em Miramar.

Senhor da Pedra – Miramar

Esta capela encontra-se edificada em cima de um rochedo e este em contacto direto com o mar. Terá sido construída em 1686 e, em tempos passados, terá sido um altar pagão que posteriormente foi convertido ao cristianismo, no entanto, acredita-se que em noites de lua cheia ainda hoje se realizem no lugar cerimónias secretas ligadas ao culto pagão.

Por aqui faço uma ligeira pausa, a esta hora tinha a sensação de já ter percorrido mais de metade da extensão do passadiço. Neste momento contabilizava duas horas a caminhar sempre a passo largo e bom ritmo…, e por aqui repus algumas energias…

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No horizonte foram-se abrindo algumas brechas de sol despertino que refletido sobre a água do mar constituía um verdadeiro espelho de água. As tábuas do chão do passadiço, inicialmente húmidas do orvalho caído durante a noite, estavam agora quase secas por completo, apenas aqui e ali , em zonas mais sombrias ainda havia alguma humidade.

Com o dia a esta hora ligeiramente mais quente aliviei um pouco o vestuário e retomei a caminhada mantendo a mesma cadência, ainda era cedo para reduzir o ritmo. Por momentos lembrei do nome de uma embarcação da arte xávega que tinha visto pouco mais de uma hora antes, em Espinho: “Vamos Andando”, assim se chamava.

Meio caminho percorrido

Retomo a marcha, e umas dezenas de metros mais adiante avisto a marcação de 8 km percorridos no sentido em que eu caminhava, faltavam 7 para chegar à Praia dos Lavadores em Gaia. Era por isso necessário manter o ritmo que trazia até então.


Posteriormente passo pela Praia de Francelos, Praia de Valadares, Marinha, Talho, Zambueira, Peniceiro e finalmente a Praia dos Lavadores, onde termina a costa e a extensão do passadiço.

A partir daqui a caminhada continuou mas agora pela margem sul do estuário do Rio Douro. Cheguei a Afurada à hora ideal para o almoço, era uma hora da tarde. Dou alguns passos por estas bandas com vista a encontrar um restaurante que me cative e eis que me apercebo de um quadriculado quase perfeito nas ruas desta localidade, que partilham as casas entre o cais e a colina. É uma povoação engraçada, com o rio a separa-la da grande cidade que é o Porto. Por aqui depressa se conclui que a rua é de todos! A forma como vivem estas gentes quase nos permite construir mentalmente a seguinte frase:

-E favor não tropeçar nos chinelos, nem nas botas que se encontram aí à porta!

São o calçado que muitos dos seus habitantes deixam à entrada de casa, à mão de toda a gente que por ali passa. Ao ver este cenário retirei do pensamento a ideia inicial que tive sobre a eventual origem de um estendal de roupa com que me deparei quando chego a esta localidade, constituído por cordas esticadas e sustentado por canas ou vara-paus. Este embora pudesse ter origem nas gentes de etnia cigana (deparei-me com muitos junto ao local quando por lá passei), o mesmo faz parte da forma de vida destes habitantes, fazendo lembrar o clássico filme: “A Aldeia da Roupa Branca”.

Decidi entrar no primeiro restaurante que encontrei com ambiente agradável, e a escolha acabou por se revelar acertada. Lá dentro um senhor de meia idade, a julgar pelos óculos escuros penso que seria deficiente visual (?), interpretava algumas musicas da atualidade e outras tantas próprias da quadra natalícia que se avizinha, que ele próprio acompanhava com uma guitarra acústica, transformando o ambiente num misto de proximidade e boa disposição entre o cliente o os seus servidores.

Pelas margens do Douro

Após o almoço o percurso segue pelas margens do Douro, onde o cenário é o casario da ribeira portuense com o rio a seus pés. Do lado de cá o cais de Gaia, com cafés para todos os gostos onde se pode lanchar, tomar o pequeno almoço,… e sentir a frescura do rio mesmo ali ao lado, com o estuário do rio povoado pelos seus habitantes, na maioria gaivotas.

A Ponte da Arrábida, com tabuleiro a um nível bem elevado, faz ligação da mancha verde que se prolonga desde os jardins do Palácio de Cristal ao jardim botânico, e aos centros comerciais do lado de Gaia. Os barcos rabelos, que percorrem o rio durante as festas de S. João, encontram-se fundeados ao longo do cais. Outros semelhantes, agora equipados com meios de navegação mecanizada, fazem as delicias dos visitantes desta zona em pequenos passeios rio acima, rio abaixo, mas principalmente na zona histórica da ribeira. Na zona mais sombria encontram-se as caves dos vinhos do porto, e as ruelas antigas e íngremes que, à imagem das mais conhecidas do lado do Porto, de tão estreitas e fechadas que são, vêem o sol apenas algumas horas por dia.

A estrada que eu percorro é estreita e acompanha todas as curvas do rio, mas quem caminha tem direito a um passadiço paralelo à mesma sempre que a estrada não tenha largura para todos, passadiço que não só serve os caminhantes como também os amantes da pesca desportiva, tendo incluso no chão uns acessórios metálicos para que os pescadores possam apoiar as canas de pesca.
No rio passa um grupo de motos de água fazendo as suas acrobacias. Um pouco mais atrás os amantes da canoagem executavam alguns exercícios comandados pelos seus treinadores que, fazendo uso das cores com que cada grupo trajava os desafiava entre si a aplicarem-se no treino:
Quem são os melhores, os amarelos? não, os azuis?…(…)

Um pouco mais à frente, por ali próximo do cais de alguns dos cruzeiros no Douro, dois promotores trajados de forma condizente com a atividade marítima, nomeadamente o casaco e o boné de marinheiro, convidavam os caminhantes a um passeio pelo rio, fazendo o percurso desde o estuário na zona mais próxima da foz até a ponte do Freixo. Neste dia, devido ao fluxo de turistas vindos do país vizinho, usavam um dialeto espanhol com português à mistura:

-Quieres dar un paseo en barco? Tenemos una embarcacion a salir..

Apesar de estarmos no mês de Dezembro o corropio de gente era considerável. Entre provas de vinhos, desfrutar de paisagem e admiração do espaço envolvente, havia ainda tempo para diversão musical num qualquer terraço de algum bar por ali existente, com o teleférico a sobrepor-se a toda aquela movimentação transportando os turistas entre a ribeira e o acesso sul da ponte de D. Luís.

Jardim do Morro

Junto à ponte, no jardim do Morro, uma quantidade de estudantes universitários tirava partido da tarde soalheira que havia estado nesse dia. Entre paródias e alguma cavaqueira própria da idade e da malta estudantil, havia ainda os que tiravam partido da diversão de outros, dançando ao som das musicas que estes últimos interpretavam. Este era um dos locais privilegiados para ver o por do sol sobre a foz do rio.

A partir do espaço envolvente à Igreja da Serra do Pilar podia ver-se uma panorâmica sobre quase tudo o que foi descrito anteriormente, sem esquecer o metro de superfície bem como os caminhantes sobre o tabuleiro superior da ponte de D Luís.
Que vista maravilhosa!…

O sol vai descendo, com o dia a dar sinais de chegar ao fim. Nesta altura contabilizo cerca de 23 km percorridos a caminhar, o cansaço já se faz sentir… É por isso hora de procurar a estação ferroviária e apanhar o comboio de regresso ao ponto de partida, mas não sem antes registar de novo sem data marcada a intenção de aqui voltar.

Localização

Localização aproximada

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