Terras Gandaresas e a “Veneza” Portuguesa

A decisão de visitar as Terras Gandaresas não teve origem em motivações especificas nossas, surgiu em consequência de uma proposta do Booking, daquelas que quando nos são apresentadas temos pouco tempo para decidir, porque o prazo da oferta esgota-se. Após decisão do lugar seguiu-se a data, que curiosamente acabou por coincidir com o dia da Marinha, que neste ano de 2024 se realizou na cidade de Aveiro, onde a Marinha Portuguesa esteve representada ao mais alto nível, com demonstração de equipamentos, realização de alguns exercícios e a possibilidade de visitar e conhecer por dentro algumas embarcações, mas as coincidências não se ficaram por aqui…

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Conteúdos deste artigo

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Em consequência de um fim de semana anteriormente a esta data, que passamos na Praia de Mira, acabamos por tomar conhecimento da importância que tem para esta região o cultivo dos grelos de nabo, um produto que não é exclusivo daqui, mas de relevante importância económica para os agricultores das terras gandaresas, ao ponto de há alguns anos atrás ter sido criada a Confraria Nabos e Companhia, com o intuito de ajudar a divulgar e promover este produto genuíno bem como a gastronomia gandaresa. Este fim de semana acabou por coincidir também com a XVIII Feira dos Grelos, que a Confraria Nabos e Companhia realiza todos os anos na sua sede, em Carapelhos, freguesia do município de Mira, sendo que neste ano de 2024 a realização do evento ocorreu a 17, 18 e 19 de maio.

Ao termos conhecimento deste evento, decidimos torna-lo no ponto de partida para este fim de semana, no cardápio levávamos como objetivo principal a cidade de Aveiro. Chegamos ao local a faltar algum tempo para a hora de almoço, o suficiente para irmos ir até à beira mar e quiçá abrir um pouco mais o apetite. Seguimos em direção à Praia de Mira, uma praia maravilhosa, com muito para conhecer e com fortes ligações ao mar. Esta praia tem o dom de ser a única praia na Europa que nunca perdeu a bandeira azul desde que esse galardão foi criado. No regresso fizemos uma curta paragem em Mira, sede de município, onde gastamos alguns minutos a admirar os painéis azulejares localizados junto ao edifício dos Passos do Concelho.

Praia de Mira – em primeiro plano o Parque Municipal de Campismo de Mira.
Fonte desta imagem: Turismo Centro de Portugal

Carapelhos – a Confraria dos Nabos e a Feira dos Grelos

Carapelhos é uma freguesia do município de Mira. Foi constituída como freguesia à 40 anos e encontra-se localizada no Território da Gândara, a meia dúzia de quilómetros da sede de município, junto à confluência formada pelos municípios de Mira, Cantanhede e Vagos, municípios que fazem parte do Território da Gândara, que começa no sopé do lado norte da Serra da Boa Viagem e vai até à zona norte do município de Vagos.

Os autores deste blog, o Grão-Mestre da confraria e um dos confrades

No virar do milénio foi criada a Confraria Nabos e Companhia, a única confraria gastronómica com sede numa aldeia, que tem como principal objetivo autenticar a ruralidade das suas gentes e divulgar cada vez mais os grelos de nabo, um produto genuíno da terra, um alimento rico em aromas e sabores com destaque especial na gastronomia da região. Na gastronomia gandaresa os grelos vão à mesa com tudo, e na XVIII Feira dos Grelos podemos vivenciar essa deliciosa experiência gastronómica. Este evento tem também a particularidade de ser totalmente organizado por homens, as mulheres ajudam, mas o cerne das tarefas é feito recorrendo exclusivamente às mãos masculinas.

Bacalhau assado e “vaca-caída”, com batata a murro e grelos de nabo.

Dizem estas gentes que daqui ninguém vai com fome, e na gastronomia Gandaresa há muito para degustar. São exemplo o peixe assado na telha com batata na areia; as enguias suadas; o cozido de bacalhau; sopa gandaresa; caldeirada; bacalhau com grelos de nabo, favas com molho de quinhões, pregado da praia com grelos à vista, punheta com grelos à vista, rojões com grelo, galo ao grelo, e muitos outros… Esta foi para nós uma experiência agradável que de certeza voltaremos a repetir, desde que o nosso calendário o permita. Por isso vá que não se vai arrepender. De ano para ano o evento tem vindo a crescer, mas a Confraria Nabos e Companhia em conjunto com a câmara local, que já consagrou este evento no calendário anual do concelho, tem sabido dar resposta ao ponto de tornar este evento numa experiência memorável para todos.

Além das refeições confecionadas à base de grelos, o evento engloba diversão musical com vários artistas. Estiveram presentes O Canário, Banda Red, Nuno Barroso, e outros. O último dia do evento começou com uma “corrida entre nabos e nabais”. De tarde houve um ShowCooking onde esteve presente o vencedor do Masterchef Brasil – Ronaldo Marchel. Durante os três dias do evento os visitantes tem oportunidade de mergulhar na cultura culinária da região, onde os grelos de nabo são os reis indiscutíveis.

Seguem dois vídeos sobre o evento em 2024:

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Aveiro – a “Veneza” Portuguesa

Escrever sobre Aveiro seria mais um a juntar a tantos outros, e isso é coisa que evitamos fazer, embora nem sempre o consigamos. Também não gostamos de ser ilusórios na escrita, tentamos ser realistas e verdadeiros o mais possível, mesmo que isso não nos beneficie, por isso adiantamos desde já que a visita a esta cidade não correu muito bem.

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Considerada por muitos como e Veneza Portuguesa, Aveiro é uma cidade detentora de charme próprio  incomparável a outras cidades nacionais de calibre semelhante. É considerada também como sendo a capital da Arte Nova em Portugal, e durante o ano de 2024 foi Capital Portuguesa da Cultura, uma iniciativa do Ministério da Cultura consequente de uma proposta apresentada pela Câmara Municipal, que visou “afirmar Aveiro como cidade de cultura, de criação e de apresentação artística”.

Como nem todas as coincidências são agradáveis, fomos encontrar Aveiro envolvida em obras e com a cidade a mostrar alguma falta de zê-lo: – dito por outras palavras, num estado inadequado a uma cidade que se dizia Capital Portuguesa da cultura. Tal como dito anteriormente, o fim de semana coincidiu com o dia da Marinha, o que originou alguma afluência de cidadãos nacionais à cidade, os restantes turistas eram maioritariamente espanhóis. Com esta afluência de gente, nos operadores turísticos da ria, operadores dos moliceiros, notava-se-lhes uma preocupação acrescida em agenciar clientes, relegando para um patamar inferior a cultura, a qualidade do serviço prestado e a própria cidade.

Por aqui começamos a concluir que possivelmente não viemos a Aveiro no fim de semana adequado, nem no ano!…

Jardim, ou parque municipal de Aveiro

Sendo Aveiro considerada a capital portuguesa da Arte Nova, decidimos visitar o museu referente e usufruirmos de alguns momentos de relax na casa de chá situada no mesmo edifício. Visitar museus não é coisa que nos cative, no entanto entendemos não fazer disso tábua-rasa e abrir algumas exceções. Entramos neste museu e o conteúdo não nos fez mudar a postura, e se o leitor/a não acredita, faça uma pesquisa e veja quantas fotografias encontra partilhadas referentes ao interior deste museu.

Na explanada da casa de chá, fomos encontrar um balcão com serviço de bebidas que em tudo se assemelha a um bar e cujo tamanho é pouco maior que a cabine de um Disc jockey. Chás quase não tinha nenhuns, e o espaço pouco ou nada tinha a ver com uma casa de chá, nem na apresentação nem na limpeza. Entendemos ser um espaço subaproveitado que nada tem a ver com o charme que a fachada do edifício apresenta, uma opinião semelhante à de outros viajantes que já andaram por lá.

Casa de chá – Aveiro

Como neste fim de semana eram as comemorações do dia da Marinha, Aveiro acabou por viver alguma movimentação acrescida durante a qual que nos foi possível conhecer um pouco melhor as regalias de alguns dos quadros superiores desta força militar. Dou como exemplo as viaturas de gama alta oriundas da indústria automóvel alemã, que aguardavam pelos seus graduados com os motores a trabalhar para que o ambiente interior se mantivesse climatizado, um contraste total quando comparadas às viaturas semelhantes do Exercito Português. Seguem duas imagens relacionadas com as comemorações.

Dia da Marinha – Visita ao navio-escola Infante Sagres
Comemorações do Dia da Marinha 2024 – Centro de Congressos de Aveiro

Poderíamos ir um pouco mais além na depreciação desta visita à cidade, estaríamos a agir de acordo com a nossa consciência. Criticamos por entendermos serem pontos que podem e devem…, ou deviam ser melhorados. Houve mais situações que desagradaram, mas fiquemos por aqui. Decidimos antecipar o regresso e na volta fazer um pequeno desvio pela bonita localidade de Costa Nova.

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Costa Nova – as casas riscadas que encantam

A Costa Nova é uma bonita localidade e uma das melhores praias portuguesas para a prática de desportos náuticos, uma vez que além da costa atlântica, possui também uma frente ribeirinha virada para o canal de Mira da ria de Aveiro. Esta localidade encontra-se situada numa restinga que abriga a ria e que faz parte de uma estreita península cujo limite norte se situa na Praia da Barra, onde se encontra o farol de vigilância marítima mais alto de Portugal.

Pelas suas características e pela decoração exterior das suas construções, Costa Nova tem-se revelado um dos destinos de praia mais popular em Portugal, tanto para turistas portugueses como estrangeiros. Consta-se que a decoração das suas construções tenha tido origem nos palheiros outrora aqui existentes, construídos por motivos práticos e que em tempos idos terão sido usados como armazéns e oficinas das alfaias e utensílios de pesca.

Esta localidade nasceu aquando a abertura da barra da ria de Aveiro, em 1808, e acredita-se que na origem do nome esteja a Costa Velha, atual São Jacinto. Hoje esta localidade é o lugar perfeito para um agradável passeio em família, que pode ir desde o extremo norte da Costa Nova até à praia da Vagueira, usando para isso a via pedonal junto à faixa de rodagem, seguindo ambas em paralelo aos contornos da ria.

Visitar Costa Nova é visitar um lugar único, é igualmente sinónimo de levar consigo algumas fotografias irrepetíveis, em família ou a solo, que junto a este colorido urbano irão imortalizar a sua visita a esta localidade e à região.

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Museu da Arte e do Colecionismo – Cantanhede

Visitar o município de Cantanhede é desfrutar de um sem número de experiências no contacto direto com a natureza, onde se incluem nascentes de água pura, praias fluviais, zonas florestais, agricultura,… e outros mais. Fazem parte deste município a Gândara, a Bairrada, a zona vinícola interior, e a sul as terras do Baixo Mondego, num vale contíguo às pedreiras da pedra de Ançã tão apreciada pelos escultores dos séculos XV e XVI.

Visitamos Cantanhede de passagem, não no fim de semana anteriormente descrito mas em data diferente, num dia em que seguíamos em direção à Mata Nacional do Buçaco, e numa ligeira paragem deparamo-nos com o Museu da Arte e do Colecionismo, inaugurado recentemente. Como referido anteriormente, visitar museus não é o nosso forte, neste decidimos fazer uso de uma das exceções e em momento algum nos arrependemos.

Entrar neste museu é regressar algumas décadas no tempo e voltar a ver pequenos objetos que fizeram parte na nossa juventude, onde se incluem coleções de postais, relógios de pulso, isqueiros, lápis de escrever, rótulos de garrafas, coleções de moedas, de selos, de notas, etc… Se leitor/a é do tempo dos tão famosos relógios Swatch muito usados pela juventude na década de 80, ou dos bonecos de borracha que se encaixavam no topo do lápis, aqui vai encontrar isso em coleções. No museu encontram-se também, esculturas, estatuetas africanas, pinturas, arte sacra…, e conteúdo diverso interessante de ver, e de rever. Numa passagem por estas bandas visite-o, verá que não se vai arrepender. Repare que nós os autores deste blog, que não somos adeptos de visitar museus, por algum motivo lhe estamos a dedicar espaço exclusivo neste artigo.

Este museu resulta de um acervo constituído por cerca de 800 mil peças reunidas em cerca de 100 coleções doadas pelo Dr. Cândido Ferreira, ao qual se vieram a juntar obras de Maria da Conceição Duarte Reis, artista da terra que pintava nomeadamente a carvão e a óleo. O museu foi inaugurado pelo presidente da república a 29 de setembro de 2024 e à data da visita estava com entrada gratuita.

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Localização e como Chegar

Aveiro e as Terras da Gândara que constam neste artigo, ficam próximas do oceano atlântico, localizadas a aproximadamente 100 km a sul do Porto e a 250 km de Lisboa no sentido norte. A melhor forma de chegar a esta zona a partir de ambas as cidades dadas como referência é seguindo pela autoestrada A1, pelo IC2, de autocarro, ou fazendo uso do transporte ferroviário. Se a sua opção for esta última, não deixe de visitar a antiga estação ferroviária de Aveiro, atualmente com espaço expositivo dedicado ao turismo.

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Em Aveiro Ficamos alojados no Guesthouse Tricana de Aveiro, um edifício bem localizado, convertido em Alojamento Local e perto de tudo. Se procura um espaço mais moderno e a preço acessível tem o Veneza Hotel, localizado a 1 km do centro. Outra opção não menos interessante e que até lhe permite confecionar as suas próprias refeições é o Modern Apartement in Aveiro, a 1,3 km do centro.

Se nenhum destes alojamentos cumpre os seus requisitos, entre em Booking.com e faça a sua própria escolha.

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