Visita às salinas de Rio Maior

Classificadas como imóvel de interesse público desde 1997, as salinas de Rio Maior, também denominadas de “marinhas da Fonte da Bica”, encontram-se situadas no limite sul da área protegida da Serra de Aire e Candeeiros, a 3 km do centro da cidade de Rio maior e a cerca de 30 km da orla costeira. Pela sua localização, nomeadamente o afastamento do mar, estas salinas são únicas em Portugal e também as únicas com estas caraterísticas em funcionamento na Europa.

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Conteúdos de artigo

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Quando visitar as salinas

As salinas de Rio maior podem ser visitadas em qualquer data do ano, no entanto, fora da época sazonal apenas é possível ver o espaço e desfrutar um pouco do comércio local, nomeadamente artesanato diverso, produtos relacionados com o sal ou sua descendência, saborear licores da região, almoçar…, e deixar-se encantar pela magia destas casinhas que quase parece terem sido construídas para servir de cenário cinematográfico de um conto de fadas. Para visitar este espaço com as salinas em atividade, o ideal será vir entre o início de junho e o fim de agosto.

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A importância do sal

O sal é um condimento que teve sempre importância relevante no comércio de outrora. Além de apreciado como tempero na alimentação, o sal era também usado em curtumes e na conservação de alimentos, nomeadamente na conservação de carnes dentro das salgadeiras…, ou por exemplo no bacalhau, que era salgado ainda no mar, numa altura em que os métodos de refrigeração ainda eram pouco conhecidos. Pelo valor que outrora o sal representava, este era também usado para pagamento de jornas e, por tudo isso, esteve sempre sujeito a grande controlo politico. Acredita-se até que o comércio tenha sido o principal motivo, que levou os templários a comprar parte das salinas de Rio maior.

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As salinas e a safra

A primeira referência à sua existência data de 1177, quando Pêro d’Aragão e sua mulher Sancha Soares venderam aos Templários a quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior. Rodeadas de paisagem, relevo e clima distintos da orla costeira, neste local são consideradas uma maravilha da natureza. A água, sete vezes mais salgada que a do mar, vem de um poço ali existente, onde um sistema improvisado de canalização por mangueiras a conduz até ao talho pretendido, ou cristalizador, depois de passar pelos concentradores que se encontram situados na zona mais elevada das salinas.

Estas salinas encontram-se num vale tifónico no sopé da serra de Aire e Candeeiros, que dada a sua natureza calcária possui inúmeras falhas na rocha, permitindo a formação de lagos subterrâneos, alguns dos quais (os mais superficiais) brotam água à superfície em dias de chuva intensa, deixando de correr ao fim de dois ou três dias após a chuva parar, como é o caso na nascente principal do Rio Liz, o rio que atravessa a cidade de Leiria.

Nascente do rio Lis

De um desses lagos, que se encontra a mais profundidade, resulta a nascente que atravessa uma extensa jazida de sal-gema, indo posteriormente alimentar o poço existente no centro das salinas, de onde os salineiros extraem a água salgada necessária à laboração. Acredita-se que a razão da existência desta jazida tenha a ver com o recuo do mar, que há milhões de anos ocupou esta região. Além da nascente de água salgada o poço também tem nascente de água doce, razão pela qual não pode estar muito tempo com água em abundância sob risco de prejudicar a jazida de sal que o fornece.

Tirando partido da mecanização e dos meios mais práticos e menos cansativos que existem na atualidade, nos dias de hoje a água é extraída do poço recorrendo a uma eletro-bomba. Outrora era extraída pela mão e esforço dos salineiros através de duas picotas, um sistema mecânico-manual, em madeira, que terá sido desenvolvido na Mesopotâmia e introduzido na península ibérica pela mão dos Árabes.

A água extraída é distribuída pelos “concentradores” onde sofre a primeira evaporação, adiantando entre 3 a 4 dias a produção do sal através do aumento da percentagem de salinidade, para de seguida ser distribuída pelos talhos, ou cristalizadores, por ação da gravidade, antigamente através de regueiras e hoje canalizada por mangueiras, permitindo estas mais higiene e menos desperdício de água. O direito à água obedece a regras que nunca foram escritas e cujas origens se perderam no tempo, prevalecendo o bom entendimento entre os salineiros (ou nem sempre…). Tendo em conta as primeiras salinas existentes serem as que se encontram mais perto do poço, eram também essas as primeiras a quem pertencia o direito a usufruir da água, o direito de serem abastecidas em primeiro lugar.

A evaporação da água nos talhos ocorre entre 3 e os 7 dias, dependendo da temperatura que fizer na altura. A meio deste periodo o sal é regado, para aumento de produção, e uma vez que o sal tem tendência em se agarrar ao fundo do cristalizador, de seguida é mexido/rapado com rodos metálicos, ficando em várias linhas ou desenhos que o pessoal da safra acaba por traçar em jeito de distração/divertimento, para facilitar ser rapado totalmente quando for retirado da salina e amontoado em forma de pirâmide em cima das eiras, não apenas para secar como também para escorrer alguma humidade que ainda contenha. Posteriormente é transportado, antigamente em sacos de serapilheira carregados às costas, hoje em carros de mão, e mais atualmente através de processo eletromecânico conhecido vulgarmente por “tubo-sem-fim”, que extrai o sal das zonas baixas e o eleva para cima do transporte. seguindo depois até à cooperativa, ou até aos armazéns dos salineiros particulares.

Não há muitos anos, a produção do sal era feita sazonalmente por agricultores que, entre Maio e Setembro, se dedicavam à safra, sendo os lucros obtidos divididos a meias entre o salineiro, habitualmente chamado de marinheiro, e o dono dos talhos. Atualmente o trabalho é feito por uma equipa contratada pela cooperativa, criada em 1979 para responder ás necessidades de exportação e aumento de produção (pelos novos processos), que desenvolve toda a exploração da safra do sal na maioria das salinas.

Ao longo dos 8 séculos da sua existência os métodos pouco mudaram, o que confere ao local a singularidade que o carateriza, tomando este espaço num museu a céu aberto. No entanto, a competitividade obrigou a algum desenvolvimento e em consequência algumas alterações, inovações e técnicas utilizadas.

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A flor de sal

Nos dias mais quentes e sem vento, formam-se à superfície da água que se encontra nos cristalizadores uma espécie de cristais brancos, muito finos e em forma de pirâmide, que são cuidadosamente recolhidos e posteriormente secos, de onde resulta a “flor de sal”. A sua caraterística principal é realçar o sabor dos alimentos, sendo a flor-de-sal procurada por muitos apreciadores para esse efeito. A flor se sal é proveniente apenas da produção artesanal.

Antigos armazéns de sal

O conjunto de casinhas em madeira que ladeiam a rua principal por onde o transito automóvel circula, transmitem a ideia de uma pequena aldeia semelhante a algumas aldeias de xisto (pequenas) existentes pelo interior do país, com os talhos de forma e dimensão irregular mesmo ali ao lado, cuja baixa profundidade os faz parecer a um tabuleiro onde em toda a área por eles ocupada impera a paisagem branca, fazendo parecer um manto de neve no verão, decorado inclusive com algumas “estalactites de gelo”.

As casinhas, que outrora foram os antigos armazéns de sal, hoje encontram-se dedicadas ao comercio, tendo a própria cooperativa dado o primeiro passo nesse sentido. Aquando a sua construção a madeira foi o material escolhido, por ser aquele que mais resistência oferecia à ação corrosiva do salitre. As fechaduras que delas faziam parte eram também em madeira, incluindo a chave, um sistema engenhoso que permitia fechar a porta com segurança aparente. A chave era introduzida no orifício da fechadura com os dentes virados para cima e, ao ser pressionada para cima, alinhava os piqueletes, permitindo então a abertura da porta. Cada uma tinha o seu segredo, não havia duas chaves iguais.

A tábua e o taberneiro

Tendo em conta os métodos antigos e as noites frias e húmidas, que resultavam em trabalho mais duro nas salinas, os salineiros sentiam a necessidade de ingestão de calorias, o que resultava no consumo de bebidas alcoólicas e, por consequência, a frequente passagem pela taberna local. Face ao analfabetismo de antigamente, o taberneiro apontava a conta de cada freguês e os pagamentos que ia fazendo numa tábua com aproximadamente 1,5 metros de comprimento por 10 ou 15 cm de largura.

Cada cliente tinha a sua tábua e cada sinal representava a bebida consumida e o respetivo preço, ficando as tábuas penduradas em permanência nas paredes da taberna. Desta forma o cliente sabia sempre quanto devia, os salineiros sabiam quem era o mais bebedolas e, tirando partido destes dados, além de mais consumo na taberna resultante pelo desafio entre os salineiros, o taberneiro ia recebendo com mais facilidade. De realçar que os pagamentos eram sempre feitos em sal, data em que este era um produto muito importante no comércio, sendo por isso usado como moeda de troca ou pagamento de jornas, de onde eventualmente resulta o termo “salário”.

Localização

As salinas de Rio Maior encontram-se localizadas a cerca de 5 km da estrada nacional N1. Para chegar até elas deve sair na N1 com direção a Rio maior, e no Alto da Serra seguir em direção a Fonte da Bica, ao descer do Alto da Serra irá avista-las ao fundo… Se vier em transporte publico deve ter como destino a cidade de Rio maior

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Vídeo sobre as salinas


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Bem Haja…

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