De Nazaré a S. Martinho do Porto

Se há lugares que pela sua simplicidade nos surpreendem e nos apaixonam, o percurso panorâmico pela estrada do atlântico que atravessa a Serra da Pescaria e a Serra dos Mangues, fazendo a ligação entre Nazaré e S. Martinho do Porto é sem dúvida um deles. Com a mesma opinião estarão certamente a grande maioria dos residentes nesta elevação calcária, as recentes construções voltadas para o mar e os inúmeros estabelecimentos de Alojamento Local ao longo de todo o percurso são a prova disso.

Santuário de N. Sra. da Nazaré

____________

Conteúdos deste artigo

____________

Nazaré

Nazaré é uma vila Portuguesa do distrito de Leiria, sede de um município a que dá o nome composto por três freguesias. Rodeada a oeste pelo oceano atlântico e em todo o perímetro terreste pelo município de Alcobaça, o cerne da vila encontra-se situado poucos metros acima do nível médio da água do mar. É delimitado a sul pelo porto de abrigo, onde se encontram ancoradas embarcações de pesca e de recreio, e protegido a norte pela elevação de uma parte do povoado a que deram o nome Sitio da Nazaré, hoje conhecido mundialmente pelas ondas gigantes que aqui ocorrem anualmente, e que permitiram a surfistas de renome registo no Guinness referente às maiores ondas surfadas.

Miradouro do Sítio da Nazaré
Miradouro do Suberco

Anteriormente o Sítio da Nazaré era já um lugar muito visitado, tanto pelas maravilhosas vistas que proporciona, como pela simpatia dos residentes que tão bem sabem receber. Nos últimos anos o lugar tem visto a sua popularidade aumentada, não só pela vinda de surfistas de gabarito mundial, que aqui se deslocam em busca de adrenalina e de estabelecer um novo máximo nos seus limites enquanto surfistas, mas também pelo consequente público que aqui vem assistir ao duplo espetáculo: as ondas gigantes do canhão da Nazaré, e os surfistas que aqui tentam a sua sorte.

Museu no interior do Forte da Nazaré

Garrett McNamara – Surfista

Das várias tradições que por aqui existem, uma delas está intimamente ligada à Arte-Xávega e ao colorido das vestes das Nazarenas, aquelas que ainda usam as sete saias como manda a tradição. Este tipo de traje é uma espécie de cartaz de visita para quem vem de fora. Na atualidade, existe até uma homenagem a esta tradição localizada no centro de uma rotunda, na descida para a vila, cuja cor e aspeto ferrugento é um pouco adverso ao colorido das sete saias. Na opinião do autor deste blog era possível fazer melhor.

Créditos desta imagem: Flickr – La Ventana de Alvaro

________________

Início do Percurso

A par do percurso que no nosso caso decidimos percorrer alternado entre o automóvel e a caminhada, existe um percurso pedestre que quando percorrido de forma circular pode ser considerado GR (grande rota), totalizando 36km. Com partida na Ponte da Barca, sobre o rio Alcobaça, (entre Nazaré e o Casal do Mota), o percurso segue pela zona dunar até bem perto de S. Martinho do Porto, retornando ao ponto de início pela estrada nacional N242.

É um percurso marcado pela diversidade da paisagem, composta por campos agrícolas, zonas rochosas, vegetação típica marítima, caminhos rurais, moinhos a vento, mar, praia, e até mesmo pegadas de dinossauro. Veja aqui informação a respeito. Os campos agrícolas entre a Serra da Pescaria e a zona dunar, protegidos pela encosta da serra e pelo clima húmido marítimo, permitem ao agricultor algumas culturas de inverno uma vez que o conjunto destas caraterísticas dificulta a formação de geada.

Campos agrícolas e Praia do Salgado junto à Serra da Pescaria

Seguimos em direção à “Igreja” de São Gião e pelo caminho cruzamo-nos com as ruínas de uma edificação que terá sido estrutura de alguma industria antiga, e sobre a qual não conseguimos encontrar informação. Mais adiante crescem as plantações de couve flor, couve lombarda, coração-de-boi, alho francês,… alinhadas pela precisão do volante do agricultor, neste vale de terra fértil e de sopé serrano à beira mar plantado.

Ao avistarmos a Igreja de São Gião somos surpreendidos pela negativa, apesar das aparentes obras de restauro, os sinais de religiosidade à data atual são quase inexistentes. Consta-se este ser um dos templos cristãos mais antigos existente em Portugal. Alguma informação aponta a sua origem para o século VII, referindo ser de estilo visigótico. Não nos foi possível conhecer o seu interior e desconhece-se quando irá reabrir, se tal vier a acontecer…(?)

Conduta de água frente à Igreja de S. Gião

Serra da Pescaria.

A serra da pescaria acolhe no seu solo um bosque mediterrâneo de estrutura baixa, cobrindo por completo a encosta, que resulta da exposição aos ventos marítimos. Nestes solos calcários fustigados pela maresia que assola encosta acima, desenvolvem-se espécies como a urze, o pinheiro manso, a aroeira, o carrasco ou a sabina das praias, criando vegetação densa quase impenetrável que serve de refúgio a algumas espécies animais bem adaptadas a esta vegetação.

Esses ventos, que assolam encosta acima, foram outrora a fonte de energia necessária à laboração de moinhos de cereal, dispersos ao longo desta serra, alguns deles reconstruídos e uma minoria convertida em Alojamento Local, com maravilhosas vistas ao redor, para a serra e para o mar.

Ao fundo da encosta, para o lado atlântico pode ver-se a Praia do Salgado com o seu areal extenso. Para o lado oposto vislumbram-se os campos agrícolas, e restante paisagem até onde a vista alcança. É hora do almoço e aqui bem perto encontramos o restaurante “Tasca do Janeca”, situado no cume desta elevação, a meio do percurso e com preços atrativos, um espaço que recomendamos e que para nós acabou por ser o local ideal para almoçar enquanto calcorreamos por aqui. Recomendo ligar para reservar mesa, caso contrário pode ser complicado…

A partir da vista proporcionada pelo “miradouro” em torno de alguns destes moinhos, podem ver-se as dunas e algumas habitações nelas escondidas, propriedade de alguém que encontrou um pedacinho de paraíso onde descansar, uma espécie de refúgio, o lugar ideal para se “esconder” e relaxar.

Na zona mais a norte da Praia do Salgado desagua o Rio Alcobaça, nome do troço final do Rio Alcoa após se fundir com o Rio Baça. A sul desta praia existe uma zona rochosa muito frequentada por amantes de mergulho e de pesca desportiva, cujo acesso recomendo fazer a pé. Para chegar mais perto coloque no GPS “pegadas de dinossauro”, existem por aqui sim, embora um pouco rebuscadas. Tem como opção uma cortada para a Praia do Salgado indicada por sinalização em madeira. Siga essa indicação, algumas centenas de metros depois encontra o miradouro. A partir daí pode descer até à zona rochosa, ou visitar as referidas pegadas.

Se é auto caravanista, no pequeno aglomerado de habitações da Praia do Salgado, existe um lugar com condições ideais para pernoitar, se é ou não autorizado nada podemos dizer. Se for praticante de parapente, por aqui também vai encontrar excelentes condições, inclusive um lugar para lançamento nas proximidades de S. Martinho do Porto, junto a praia da Gralha.

Miradouro do Salgado

Serra dos Mangues

Neste momento já se encontra na Serra dos Mangues, junto ao miradouro do Salgado. Se estiver a ser orientado pelo GPS, daqui até S. Martinho do Porto evite caminhos em terra batida, não são recomendados a automóvel ligeiro, exceto veículos 4×4. Seguimos em direção a S. Martinho e um pouco mais a frente passamos pelo parque de campismo Colina do Sol, um ótimo reduto para quem for campista e pretenda calcorrear esta zona. Por aqui começamos a entrar em ruas mais urbanizadas, em direção à Praia da Gralha.

A Praia da Gralha é uma praia do tipo não urbana e de caraterísticas que se assemelham a uma praia selvagem. Encontra-se protegida por uma arriba alta em forma de meia lua, que lhe fornece alguma proteção e alguma privacidade, o que faz com que esta praia seja habitualmente frequentada por praticantes de naturismo, apesar das suas águas agitadas.

Praia da Gralha

S. Martinho do Porto

Após a Praia da Gralha, na continuidade do percurso chegamos ao pontão norte da praia de S. Martinho do Porto. Por aqui existem quatro miradouros identificados no “maps”, apesar de toda esta zona ser um ótimo local para apreciar a envolvência da população em volta da baía de S. Martinho, desta que dizem ser uma das praias mais bonitas de Portugal, conhecida também pelas suas águas calmas e pela beleza da sua marginal.

Esta baía surge do assoreamento de uma antiga lagoa que chegava a Alfeizerão, onde terá existido um porto comercial. Hoje é um local de passeio familiar por excelência, com a marginal a percorrer toda a praia sempre bem animada na época balnear. Por estar protegida do mar aberto pelas arribas. S. Martinho do Porto revela-se bastante aprazível mesmo quando se faz sentir a nortada, sendo que para isso muito contribui também a vizinha Serra dos Mangues.

A ligação desta praia com o mar faz-se através de uma barra com pouco mais de 200 metros, entre os morros do farol localizado a norte, e da Capela de Santa Ana a sul. As águas calmas da baía são o local perfeito para praticantes de vela, canoagem, paddle, windsurf…, e o seu areal ótimo para crianças. Fundada no século XIII pelos monges do Mosteiro de Alcobaça, a vila teve grande desenvolvimento no século XX, sendo hoje um centro de veraneio muito procurado, onde não faltam lojas de comércio, cafés, bares e restaurantes para poder desfrutar do lugar em toda a sua plenitude.

Apesar de já não fazer parte do percurso a que nos propusemos percorrer, entendemos estender este roteiro à margem sul desta baía, mais precisamente Salir do Porto. A parte que se segue recomendo que a percorra a pé, é um percurso fácil e muito agradável. Com partida em qualquer ponto da marginal de S. Martinho, contorna a baía até chegar à rotunda onde se encontra o bar Quilha-Mar, e uma vez aí, entra nos passadiços que vão até às piscinas de Salir do Porto. Pelo caminho passa no parque de campismo Baía Azul, localizado num local privilegiado para desfrutar desta praia.

Não somos adeptos da construção de passadiços em qualquer lugar, muitas deles resultam de políticas medíocres que se traduzem no uso indevido dos fundos europeus, e no caso de passadiços, na dupla destruição da natureza. Em nossa opinião aqui foram assertivos, além de permitir ao veraneante melhor deslocação pela margem da baía para se instalar no areal em época de veraneio, estes passadiços permitem ligação pedonal mais direta entre S. Martinho do Porto e Salir do Porto, servindo de convite à caminhada e consequente exercício físico.

Ao chegar a Salir do Porto deparamo-nos com a maior duna de areia existente em Portugal, com cerca de 50 metros de altura. Diz-se por estas bandas que é raro ver alguém que a consiga subir sem ter de fazer pelo menos uma pausa. Outro desafio é conseguir desce-la sem sentir a tentação de dar uma corrida. Quando descida em grupo há sempre algazarra. Nós não a subimos, contornamos as piscinas pela esquerda e seguimos em direção à Capela de Santa Ana, de onde obtivemos vistas maravilhosas sobre a vila de S. Martinho e pontão Norte, a zona onde estivemos anteriormente. O lado sul tem alguns percursos pedonais que recomendamos, sempre acompanhados pela melodia das ondas do mar.

Terminamos este roteiro por aqui e já sabe, na volta, aventure-se a descer a duna e tente chegar ao fundo sem areia dentro do calçado, nós não conseguimos.

Localização

Nazaré e S. Martinho do Porto ficam situadas no litoral a cerca de 1,5 horas de Lisboa no sentido norte. O percurso aqui descrito faz ligação entre estas duas localidades.


Use os nossos atalhos no planeamento da sua próxima viagem. Não paga mais por isso e contribui para a manutenção deste blog.

Alojamentos Locais ao longo do percurso


Deixe um comentário usando o formulário.

Bem Haja…

Deixe um comentário