Alentejo Interior II

Já por aqui tínhamos andado antes, com tempo mais reduzido e visitando outros lugares que não os de agora. Outros agora decidimos repetir, porque há sempre algo novo para ver, mas também porque tinha ficado alguma coisa por visitar. Regressamos a um parque de campismo onde fomos sempre bem recebidos, precisamente dois anos após nele termos estreado a pequena caravana que nos tem acompanhado.

Adiantamos desde já, tal como da primeira vez que por aqui andamos, que este artigo tem como objetivo a partilha de alguns dias pelo Alentejo Interior, não é sobre um lugar específico.

A pequena Liberty no mesmo lugar dois anos depois…

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Conteúdos deste artigo

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Estremoz – a cidade branca do Alentejo

Com o primeiro dia reservado exclusivamente para a viagem e o tempo de sobra para relaxar, ainda houve margem para ir um pouco até à “cidade branca” do Alentejo, que quando vista a partir da torre de menagem, se percebe facilmente de onde vem este apelido que lhe foi atribuído. A este apelido não escapa a torre de menagem, toda ela revestida a mármore branco ou não fosse esta a zona onde existe a maior reserva de mármore branco em Portugal.

Vista da torre de menagem do castelo de Estremoz
Chafariz da Fontinha, todo ele em mármore. (sec. XVI ?)

O parque de campismo fica nas proximidades de Evoramonte e tem o nome de Camping Alentejo. Fazem parte do seu equipamento uma piscina que nestes dias de calor intenso foi maravilhosamente agradável.

Camping Alentejo

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Visitar Évora – Cidade Museu

Nos dias que se seguiram tínhamos planeado conhecer a cidade de Évora, que em 2027 será Capital Europeia da Cultura, mas a temperatura alta não estava alinhada com as nossas intenções e limitamo-nos a um dia incompleto nesta cidade. Decidimos regressar noutra data, com temperaturas mais amenas, a fim de conhecermos melhor de que forma a cidade se está a preparar para tão nobre evento. Por agora soubemos terem existido interesses políticos a perturbar o processo, o que não é de todo agradável para a preparação de um evento desta natureza. De lamentar este tipo de situações, que apenas prejudicam o país e neste caso particular, esta cidade.

Catedral de Évora
Palácio de D. Manuel, um dos mais belos palácios de Évora

A caminho de Évora pela N18, ainda nos foi possível apreciar a planície Alentejana com as suas grandes searas como habitualmente era conhecida, áreas onde olivais e amendoais ainda não proliferam, imagens que apenas chegavam até nós pelos livros escolares e que poderão não perdurar por muito mais tempo. Com o clima desconfortável para calcorrear as ruas desta cidade, decidimos antecipar o regresso ao parque e terminar o dia na piscina, mas não sem antes degustarmos um pouco da gastronomia Alentejana.

Migas de espargos com carne frita

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Centro Interpretativo do Mundo Rural, no Vimieiro

O dia seguinte amanheceu com a promessa de mais um dia quente e nos nossos objetivos estavam apenas dois locais de visita. O primeiro era o museu que dá pelo nome de Centro Interpretativo do Mundo Rural, na localidade de Vimieiro. Neste museu foi possível conhecer melhor a vida e o quotidiano de outrora destas gentes. Embora não muito grande, este museu dispõe de uma riqueza considerável no conteúdo e artigos expostos, onde se incluem fotografias originais da vida que se fazia antigamente.

Este Centro Interpretativo, e passo a citar:

“é um projeto museológico da Câmara Municipal de Arraiolos que se pretende constituir como memória do mundo rural alentejano entre as últimas décadas do século XIX e meados do século XX, época de injustiças, pobreza e dura labuta a que o povo alentejano foi submetido, mas a que soube subsistir com sacrifícios diários e muita coragem.”

Vimieiro é uma freguesia do município de Arraiolos e sendo Arraiolos muito famosa pelas suas tapeçarias, foi para lá que de seguida nos dirigimos.

Centro Interpretativo da Tapeçaria de Arraiolos

É no Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos que se encontra o posto de turismo, local para onde nos deslocávamos a fim de pedir informações. Este centro interpretativo é um espaço museológico que tem como missão promover o estudo e a divulgação do Tapete de Arraiolos, assim como a sua conservação, proteção, valorização e reconhecimento enquanto património. No interior não nos foi autorizado tirar fotografias, como tal nada podemos mostrar do que estava exposto. De tudo o que pudemos ver, deu para perceber que terá existido influência árabe nesta arte, e na vila existem lojas certificadas nas quais se pode comprar o verdadeiro tapete de Arraiolos e não uma imitação, ou contrafação.

Centro interpretativo e posto de turismo de Arraiolos

Castelo de Evoramonte

Ao inicio da tarde decidimos visitar o castelo de Evoramonte, já o tínhamos tentado visitar anteriormente, mas as incompatibilidades do horário de abertura com as nossas voltas tornaram a visita impossível.

A Pequena e outrora vila de Evoramonte encontra-se situada no cimo de uma colina, rodeada pelas muralhas que ainda hoje a protegem e que ao longo dos anos sofreram poucas alterações. É na parte mais elevada e em posição dominante que se encontra um dos castelos mais estranhos existentes em Portugal, teve um papel fundamental na reconquista de Portugal aos muçulmanos uma vez que o Alentejo se revelou uma das zonas mais difíceis de conquistar.

A aparência atual do castelo prende-se com a reconstrução a que foi sujeito após o terramoto de 1531. Este castelo, também chamado de Paço de Evoramonte, é de inspiração italiana e uma das gemas da arquitetura militar portuguesa. Com o passar dos anos a fortaleza sofre alguma degradação e em 1930 tem início trabalhos de restauro que se prolongaram por mais de uma década, voltando a sofrer novas intervenções na década de setenta e oitenta do século passado, conferindo ao monumento o aspeto que ainda mantém hoje.

Para onde quer que vá dentro das muralhas, irá encontrar casas brancas tradicionalmente pintadas com cal, algumas vezes com os rodapés coloridos em tons amarelos ou azuis, bem como contornos de portas e janelas, cores típicas do Alentejo. Mas o grande destaque desta outrora vila é o castelo, ou se preferir o Paço Ducal, situado no ponto mais alto da colina, uma construção que nos chama de longe a entrar num mundo cheio de história que remonta aos tempos medievais.

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Vila de Redondo – do barro e do vinho

A meio da semana o dia amanheceu com o sol um pouco envergonhado, o que até se revelou agradável, permitiu-nos fazer uma pausa no calor que fez ao longo desta semana. Para este dia tínhamos como único objetivo conhecer a vila de Redondo, e foi para lá que nos dirigimos.

Esta vila surpreendeu-nos positivamente por vários motivos, mas acima de tudo pelo bem receber e simpatia das suas gentes – em todos os lugares que visitamos, fomos sempre recebidos, com simpatia e um sorriso no rosto. À chegada dirigimo-nos à cooperativa vinícola do Redondo, uma entidade que soube internacionalizar-se, conseguindo dessa forma saída para a produção vinícola da região. Não nos foi possível fazer visita às instalações, era necessário marcação, mas foi possível adquirir vinho produzido aqui, decidimo-nos por um branco e um tinto.

Olaria de Redondo – Museu do Barro
Castelo do Redondo – Porta do Postigo

Posteriormente seguimos até ao centro da vila e visitamos tudo o que nos foi possível: O castelo, o museu da olaria, o centro interpretativo da festa das flores do Redondo, uma olaria, o museu da arte pastoril, e outros lugares mais. Em resumo, uma manhã agradável e bem preenchida.

Artesanato exposto no posto de turismo do Redondo
Porta da Ravessa – Redondo, a porta que deu o nome a um vinho.

Almoçamos no restaurante “A Torre”, junto à Porta do Postigo, um restaurante que recomendamos, de ambiente tipo tasca mas muito acolhedor, e mais uma vez gente simpática. Será a nossa primeira opção quando regressarmos ao redondo. Com tempo ainda de sobra, daqui seguimos em direção a Vila Viçosa.

Palácio Ducal de Vila Viçosa

Para esta vila levamos apenas um único objetivo, a visita ao Palácio Ducal de Vila Viçosa, cuja frente com seus 110 metros de comprimento é toda ela revestida a mármore da região. Já por aqui tínhamos andado, como a visita ao Palácio Ducal tem dias e horários específicos não conseguimos compatibilidade para a visita. Dentro do Palácio Ducal não é permitida a captação de imagens, por esse motivo nada podemos partilhar. Na visita a este espaço pode incluir o museu das carruagens, museu de louça chinesa,… mas para cada visita extra acresce também um valor extra.

Palácio Ducal de Vila Viçosa

Com o sol de regresso, regressamos ao parque de campismo e o resto do dia foi ocupado na piscina. No dia seguinte rumamos em direção a Beja, ao parque municipal de campismo desta cidade.

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Pela capital do Baixo Alentejo

Praia fluvial Cinco Reis – Beja

Após nos instalarmos, em Beja começamos por visitar e usufruir da praia fluvial Cinco Reis, localizada numa albufeira construída exclusivamente para regadio, fica situada a aproximadamente 8 km de Beja, embora para esta distância os últimos 2 km de acesso sejam pouco agradáveis de percorrer. É uma estrada poeirenta com piso em tout-venant no qual não é muito agradável circular. Existe um percurso com estrada asfaltada, mas acaba por não ser alternativa uma vez que a distância é quase três vezes superior.

Esta praia fluvial tem parque de estacionamento, zona de areal, e todos os apoios necessários a uma praia fluvial, sem esquecer o acesso a pessoas com mobilidade reduzida. Possui também um centro de atividades náuticas, embarcadouro, um bar de petiscos com produtos regionais, instalações sanitárias e posto de primeiros socorros. Sobre as condições balneares, é uma praia fluvial onde se pode ir a banhos agua dentro sem grandes alterações na profundidade. No dia em que chegamos a Beja nós passamos aqui uma tarde agradável.

Concerto à noite num jardim de Beja

Após o jantar, num pequeno passeio à noite pela cidade, movidos pela curiosidade e seguindo o som musical que cada vez parecia ficar mais perto, acabamos por chegar ao jardim público Gago Coutinho & Sacadura Cabral, onde se encontrava a atuar um artista ex-concorrente do Got Talent português, um artista da terra que nessa noite interpretou vários temas com origem no Cante Alentejano. Sendo o autor deste blog um “apaixonado” pelo Cante Alentejano, valeu ter sido curioso.

Piscinas municipais de Beja

Face ao clima quente e intenso que teimava em continuar, procuramos conhecer a cidade no periodo da manhã e reservamos a tarde para algo mais refrescante, e Beja está equipada com piscinas municipais maravilhosas que ficavam mesmo ali ao lado do parque de campismo. Juntamente com as infraestruturas, o espaço ocupa uma área generosa.

Castelo de Beja

Dentro da cidade de Beja, começamos por subir à torre de menagem do castelo, a partir da qual se obtém vista panorâmica sobre toda a cidade e planície Alentejana até perder de vista. O castelo de Beja é um dos monumentos mais marcantes desta cidade e a subida à torre de menagem é algo imperdível. Aproveitamos para dizer que é aqui no castelo que se encontra o posto de turismo.

Daqui partimos à descoberta pelas ruas e ruelas desta cidade, mas não sem antes visitarmos o pequeno museu Jorge Vieira localizado na Casa do Governador, aqui no castelo (por cima do posto de turismo).

“Casal” – uma das peças expostas no museu.

Núcleo Visigótico de Beja – Museu

Não muito longe do castelo encontra-se o Museu Rainha Dona Leonor – Núcleo Visigótico, localizado na antiga igreja de Santo Amaro, uma das primeiras basílicas cristãs a existir em Beja. Nesta igreja o visitante encontra uma variedade de capitéis visigóticos, que são parte integrante da estrutura da igreja e que se acredita tenham sido recuperados de outros edifícios religiosos, possivelmente destruídos durante a ocupação árabe (?). O acervo deste museu é constituído por valiosas peças arqueológicas e artísticas, abarcando a pré-história, a idade do ferro, a romanização, a ocupação árabe e os visigóticos.

Sé-Catedral de Beja

Tendo como referência o castelo, para o lado oposto do Núcleo Visigótico encontra-se a Sé-Catedral de Beja, não é uma igreja muito grande mas é um espaço de beleza singular que, segundo a “Irmã” que se encontrava no interior a receber os visitantes, teve obras de restauro à poucos anos, em 2014 (?). De destacar o retábulo da capela-mor em talha dourada da autoria do mestre lisboeta Manuel João da Fonseca, datado de 1696

Pousada de Beja, ou de S. Francisco

A Pousada de São Francisco em Beja resulta da recuperação do antigo Convento de São Francisco, integra a rede pousadas de Portugal com a classificação de Pousada Histórica. No antigo refeitório
quinhentista, coberto por uma abóbada de cinco tramos, funciona o restaurante. As zonas de estar ocupam a antiga sala do capítulo coberta de frescos da época. Para os quartos foram adaptadas as antigas celas dos monges. Nós visitamos a zona inferior, a única parte aberta a visitas.

Calcorreando as ruas de Beja

Quando calcorreamos as ruas de Beja apercebemo-nos que a arquitetura desta cidade está repleta de antiguidade, mas nem toda ela devidamente descrita no mapa turístico. Outra, apesar de descrita não a conseguimos encontrar, uma situação relacionada com a cartografia que já nos aconteceu anteriormente noutra cidade.

Janela manuelina

Igreja de Santa Maria – Beja

Esta é uma das igrejas mais antigas de Beja. No local onde se encontra poderá ter existido a primeira catedral cristã, que na época islâmica terá dado origem à mesquita principal desta cidade. Com a ocupação da cidade em definitivo pelos cristãos, no século XIII, os monarcas portugueses terão autorizado a construção de um novo templo cristão que viesse substituir a mesquita. Do edifício dessa época resta a estrutura gótica da cabeceira, visível a partir do exterior. Do interior nada podemos mostrar, à data da visita encontrava-se fechada.

Á frente da igreja encontra-se um edifício que nos despertou curiosidade e que na certa será um dos edifícios históricos da cidade, mas desconhecemos qual, e como estávamos de férias, decidimos ficar pelo que os olhos contemplam.

Museu regional Rainha Dona Leonor

Embora pouco adeptos de visitar museus, existem algumas exceções que decidimos manter, mas neste caso e face às obras que à data decorriam, não nos foi possível visitar o museu regional Rainha Dona Leonor, possivelmente o principal museu que existe nesta cidade.

Este museu encontra-se instalado naquele que foi designado como Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição, segunda metade do Século XV, um espaço outrora religioso que beneficiou de proteção real, tornando-se um dos mais ricos e sumptuosos do reino.

Portal Manuelino em Beja

Este portal manuelino é um dos mais interessantes portais da cidade de Beja, tanto pela ornamentação como pelo facto de estar epigrafado. O arco canopial é ladeado por duas cartelas com inscrições que dizem o seguinte: “Favorece-me e serei salvo” e “Meditarei sempre nas tuas justificações”. Consta-se que esta porta era a entrada do antigo hospital do Espírito Santo, o que nos permite compreender melhor o sentido do Versículo nas cartelas.

A Arte Azulejar em Beja

A Arte Nova chegou tarde a Portugal, durou pouco tempo e não se manifestou por todo o país do mesmo jeito, havendo cidades onde a mesma é quase inexistente. Acreditamos que em Beja a Arte Nova se manifestou acima de tudo em painéis azulejares, que com facilidade se encontram pela cidade, cobrindo fachadas de edifícios que datam no mínimo da primeira metade do Século XX. Seguem algumas imagens das fachadas que cativaram mais a nossa atenção.

Algumas acreditamos tenham sido alvo de restauro. Ainda que assim não seja, não deixamos de gostar e independente da sua origem entendemos dedicar-lhes algum espaço, uma vez que na arquitetura da atualidade, onde predominam muros verticais e moradias sem beirados, pintadas de branco, cinzento e antracite, a aplicação de azulejos desta natureza parece-nos ser algo impensável.

Ao admirar estas fachadas em azulejo, não deixe de admirar também os gradeamentos das varandas em ferro fundido, verdadeiras obras de arte difíceis de encontrar nos dias de hoje, apesar da existência de meios mais sofisticados que os de antigamente.

Cante Alentejano – Património da Unesco

Terminamos esta semana de férias assistindo a um ensaio do grupo coral misto de Cante Alentejano denominado Searas ao Vento da Aldeia da Trindade. Os ensaios eram abertos ao público e nós aproveitamos para assistir, e devo dizer que fomos calorosamente recebidos pelo grupo.

Sugestões de leitura e visita sobre outros locais.

Onde ficar alojado/a

  • Como somos caravanistas, fizemos uso dessa prática e ficamos instalados no parque municipal de campismo de Beja. Se necessitar de alojamento nesta cidade recomendamos a Pousada Convento de Beja, um espaço que mereceu a nossa atenção.

Informação útil

  • Visita ao Palácio Ducal de Vila Viçosa – 8€
  • Subida à torre de menagem do castelo de Estremoz – Gratuita
  • Visita ao castelo de Evoramonte – 2€
  • Visita à Sé-Catedral de Évora, incluindo o museu da arte sacra – 5€
  • Visita à Capela dos Ossos de Évora – 6€ (nós não visitamos)
  • Visita à pousada do castelo de Estremoz – 2€
  • Visita ao Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos – 1€
  • Visita ao Centro Interpretativo do Mundo Rural em Vimieiro – Gratuita
  • Visita em todos os museus e semelhantes na vila do Redondo – Entrada Gratuita
  • Subida à torre de menagem do castelo de Beja – 2€
  • Visita ao Museu Visigótico de Beja – Gratuita
  • Visita à Sé-Catedral de Beja – Gratuita

O Palácio Ducal de Vila Viçosa tem dias e horários específicos de visita, e a visita é guiada. Veja aqui informação a respeito…

Cante Alentejano – Castelo de Beja

Segue um vídeo com o Cante Alentejano dedicado ao castelo de Beja, interpretado pelo grupo de cante – Cantadores do Desassossego


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