Serra de S. Macário – Aldeias de xisto

Na região da Beira Alta, no distrito de Viseu, situasse São Pedro do Sul, cidade conhecida pela estância termal mais desenvolvida da Península Ibérica. Localizada na zona de Lafões, a cerca de meia hora da cidade de Viseu e a cinco horas de Lisboa no sentido norte, é sede de um município detentor de património rural e paisagístico com destaque para as serras de S. Macário, serra da Arada, e algumas aldeias de montanha, entre as quais aldeias de xisto localizadas nas suas encostas e em vales profundos um pouco desertos, isoladas dos centros urbanos e das formas de vida da atualidade, onde a ocupação principal do reduzido número de habitantes se reparte entre a pastorícia e cultura de subsistência.

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Conteúdos deste artigo

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Apesar do clima que as previsões apontavam e de ainda estarmos a tempo de cancelar a viagem sem custos ou penalizações, decidimos manter o que havíamos planeado e seguir estradafora. A chuva que caiu ao longo da semana anterior esmoreceu-nos um pouco, mas as expectativas e a vontade de ir continuaram altas. Decidimos fazer uso de uma frase já muito badalada pelas redes sociais:

Hotel da INATEL – S. Pedro do Sul

Chegamos a S. Pedro do Sul um pouco antes da hora habitual do almoço, tempo suficiente para um ligeiro passeio pela cidade, durante o qual foi possível perceber que iremos ter de lá voltar. Desta vez o “cardápio” já se encontrava organizado e preenchido pela visita às aldeias de xisto que decidimos visitar.

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Quando visitar estas aldeias

A visita a estas aldeias não requer uma data especifica, no entanto, tendo em conta algumas fotos partilhadas nas redes sociais e outros meios virtuais, acreditamos que os dias primaveris sejam os mais adequados. No inverno, em dias de gelo ou neve deve evitar a todo o custo, enquanto que no verão a saga dos incêndios pode ser traiçoeira. As datas que recomendamos são o outono ou a primavera, que em nossa opinião é também quando a Serra da Arada tem mais encanto.


Fujaco, Aldeia da Pena, Covas do Rio e Covas do Monte


Partindo de S. Pedro do Sul, para chegar a estas aldeias é necessário subir a Serra de São Macário até perto do Santuário, um local cuja altitude ronda os 1000 metros e de onde obtém vistas maravilhosas sobre a periferia, para posteriormente descer por estradas estreitas e íngremes, inadequadas a pessoas temerosas ou que padeçam de vertigens.

Apesar de íngreme é um percurso recompensado pela paisagem verdejante, com cenário circundante montanhoso a que ninguém fica indiferente, embora aqui e ali seja necessário imobilizar a viatura para poder tirar os olhos da estrada e olhar com mais descontração, enquanto respira fundo por breves momentos. São cenários bucólicos raramente percorridos pelo cidadão comum, com exceção dos pastores e seus rebanhos.

Capela de S. Macário

O tempo que tivemos disponível antes de almoço permitiu-nos recolher algumas informações junto do posto de turismo local, onde ficamos a saber da existência de uma outra aldeia que não fazia parte da nossa lista. Nesta altura e face às condições climatéricas, sentimos necessidade de adiar a caminhada que pretendíamos fazer e deslocar-nos de carro entre as aldeias, o que acabou por se revelar a melhor opção.

Santuário de São Macário

Fujaco – Serra da Arada (aldeia de xisto)

A aldeia de nome Fujaco fica situada numa das encostas da Serra da Arada. Encontra-se dispersa ao longo de alguns metros, nas proximidades do vale, empoleirada em socalcos que contornam a serra consoante a sua geometria. As pequenas casas, construídas quase totalmente em xisto, erguem-se encosta acima como se estivessem embutidas na vertente íngreme da serra, formando pequenas ruelas ou delimitando os carreiros e as escadas que lhes dão acesso. Durante a visita teremos avistado meia dúzia de pessoas, talvez não mais, o clima chuvoso era dissuasor de qualquer saída, no entanto somos levados a acreditar que na atualidade a população não tenha mais de vinte residentes.

Reza a lenda que o seu nome deriva de um foragido, que desertou da frente de batalha de uma guerra que combatia e ali terá encontrado refugio. Daí resulta o nome atribuído à aldeia – Fujaco.

À medida que nos aproximamos da aldeia avistamos na encosta oposta as cascatas de água formadas pelas ultimas chuvas, cujo caudal era generoso. A chuva continuava a cair e o seu efeito era visível na ribeira que por ali passava, e na cobertura das habitações, maioritariamente em pedra lousa, ou ardósia.

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Aldeia da Pena – Serra de S. Macário

Decorria a década de 90 quando tive conhecimento, num artigo de uma revista semanal, da existência desta aldeia e de algumas das suas caraterísticas particulares, entre as quais o reduzido número de habitantes, sete no total, e o facto de ter menos de três horas de sol por dia no inverno, tal não é o seu isolamento no vale onde se encontra. O único meio de navegação que existia na altura era o mapa em papel, e poucos eram os que traziam a localização das aldeias, quando muito, apenas as aldeias de maior dimensão. Por erro de interpretação, a partir do alto de S. Macário acabei por ir dar a Covas do Rio, descendo por uma estrada de terra batida até bem perto desta população.

Daí para cá a aldeia teve algum progresso e hoje os meios virtuais são uma excelente ajuda como principal fonte de divulgação destes lugares. Em 2004 um incêndio consumiu boa parte da vegetação arbórea da encosta por onde serpenteia a estrada que lhe dá acesso, deixando o íngreme desta ravina exposta, o que faz com que se sinta algum receio a circular por aqui.

A Aldeia da Pena fica aninhada num vale profundo junto à elevação do Santuário de S. Macário, sendo ponto de passagem do PR4 também conhecido pelo nome “A Cabra e o Lobo”. À semelhança das restantes, a pastorícia e a agricultura de subsistência são a ocupação principal dos seus habitantes, a que se deve juntar a produção de mel, algum artesanato, e nesta aldeia também a restauração.

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Covas do Rio – aldeia de xisto

A semelhança de outras aldeias pelo interior do pais, mesmo não sendo aldeias históricas ou aldeias de xisto, a aldeia de Covas do Rio será do conjunto destas quatro aquela que nos pareceu mais deserta e também mais degradada, em oposição ao que recordo ter observado na década de 90 como o comprova o coreto da aldeia construído em 1993, sinónimo da vivência que por aqui havia. Entristece-me ver que se degradou tanto em tão pouco tempo.

Quando por aqui andei a primeira vez, nos cerca de cinco minutos que aqui estive, tempo suficiente para obter informações e voltar para trás, foi percetível esta ser uma aldeia mais habitada e com alguma vivacidade quando comparada a Aldeia da Pena, o mesmo não possa dizer em relação a Covas do Monte ou Fujaco por não as conhecer até à data.

Hoje pareceu-nos ser uma aldeia bastante degradada, com muito do seu casario em ruínas, principalmente o que era construído em xisto, uma vez que nas edificações desta aldeia vê-se muita alvenaria e betão incorporados. Foi sede de freguesia até 2012. Hoje existe apenas o edifício da mesma que se encontra ao lado da igreja, no pequeno largo onde se encontra também o coreto. Apercebi-me de muitas das suas ruas com piso em calçada de granito, cuja aparência nos pareceu terem sido arranjadas em anos recentes, possivelmente uma tentativa inglória de não deixar a aldeia morrer. Esta aldeia é outro dos pontos de passagem do trilho “A Cabra e o Lobo”.

Covas do Monte – aldeia de xisto

A aldeia de Covas do Monte será provavelmente a mais bem preservada do conjunto das quatro aqui apresentadas, e também aquela cujo acesso reúne melhores condições, sendo notórias as obras de melhoramento que terão ocorrido recentemente, onde se inclui uma parte de asfalto e o miradouro erguido junto à estrada, permitindo vista singular para o vale e para outras serras que circundam este encanto de lugar. Por aqui respira-se paz e ar puro, e sente-se o som da natureza, apenas interrompido por algumas rajadas de vento que, juntamente com a chuva, insistiam em não dar tréguas enquanto calcorreamos por aqui.

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A vida em Covas do Monte pouco ou nada difere das restantes aldeias, ressalvando a aparência de um povoado maior, bem conservado quando comparado às restantes, com mais e melhores terras de cultivo, e um rebanho comunitário que se diz existir mas sobre o qual nada podemos dizer, o clima que fazia não permitiu convivência com os residentes ao ponto de mais informação a respeito.

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Esta é outra das aldeias por onde passa o trilho denominado “A Cabra e o Lobo”, uma rota que recomendamos fazer nos meses de primavera, na mesma data em que nós o devemos percorrer. Tal como Fujaco e Aldeia da Pena, Covas do Monte também dispõe de Alojamento Local e restaurante, embora para ambos seja necessário contacto prévio. Sendo lugares pouco visitados é natural não se encontrarem abertos diariamente.

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Todos estes são lugares mágicos que recomendamos visitar. Por aqui contam-se histórias e lendas, reais ou fictícias que vale a pena ouvir…, e conhecer. Reserve um fim de semana primaveril e perca-se pela Serra da Arada, percorra alguns destes trilhos, conviva um pouco com estas gentes, e se achar ser pouco, visite também a cidade de S. Pedro do Sul, a sua estância termal e o seu património histórico e religioso, irá concluir que um fim de semana é pouco para visitar tanto.

Veja uma “amostra” da Serra da Arada na primavera.

Serra da Arada. -créditos desta imagem: Paço da Torre

Localização

São pedro do Sul fica localizada ligeiramente a norte da A25 e estas aldeias ficam aproximadamente 20km a norte da cidade sede de concelho.


Use os nossos atalhos no planeamento da sua próxima viagem. Não paga mais por isso e contribui para a manutenção deste blog. Nós ficamos alojados na Casa do Paço, lugar sossegado e com preços muito em conta. Fica do lado oposto às termas.

Se precisar de alojamento na zona recomendo ali bem perto o Inatel Palace S. Pedro do Sul, com vista para o rio, restante zona ribeirinha e também para a serra. Ali bem perto tem outras opções muito boas, a Pousada da Juventude. Para quem pretenda oferta mais completa, o Grande Hotel Thermas Nature e SPA pode ser a opção ideal, embora com custos mais elevados.

Nas aldeias de xisto tem no Fujaco o Refugio do Fujaco e na mesma aldeia o Segredo do Fujaco. Em Covas do Monte tem a Casa do Avô Zé e na Aldeia da Pena o Pena Guest House.

Veja outras opções aqui…


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Bem Haja…

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