Pontes sobre o Rio Tejo

Passaram ainda poucos anos quando decidi ir conhecer as Aldeias Avieiras na lezíria ribatejana, uma iniciativa que surgiu após ter conhecimento da existência de fortes ligações dos Avieiros a uma localidade do município onde moro atualmente. Peguei a bagagem necessária e segui EstradaFora com destino a Escaroupim, uma localidade que desconhecia, tal como o caminho até lá. Usei as novas tecnologias e na rota que o GPS me apresentou, iria fazer a travessia do Tejo na ponte Rainha Dona Amélia, também ela totalmente por mim desconhecida, o que me levou a concluir que este iria ser um fim de semana cheio de surpresas.

Ponte Marechal Carmona – Vila Franca de Xira

Ao chegar à entrada da ponte a ansiedade foi travada pelo semáforo vermelho, mas a curiosidade manteve-se em altas. Após o sinal verde, arranco e sigo ao ritmo do andamento permitido, o ideal para desfrutar melhor desta obra de engenharia. A generosa extensão do tabuleiro desta ponte, que apesar de centenária acredito ainda seja desconhecida por muitos, despertou curiosidade suficiente ao ponto de efetuar uma pesquisa virtual sobre a mesma a fim de conhecer melhor sua história. Terá sido nessa altura que surgiu a vontade de conhecer com mais pormenor as restantes pontes, que atravessam este rio e cuja construção se baseia na Arquitetura do Ferro, e partilhar aqui o resultados obtidos. Segue uma compilação de informação na qual o leitor ficará a conhecer um pouco melhor cada uma delas.

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Conteúdos deste artigo

  1. Ponte da Praia do Ribatejo – 1862 (ferroviária)
  2. Ponte rodoviária de Abrantes – 1870
  3. Ponte D. Luís I – Santarém – 1881
  4. Ponte de Portas de Ródão – 1888
  5. Ponte Rainha Dona Amélia – 1904 (ferroviária)
  6. Ponte de Belver – 1905
  7. Ponte da Chamusca – 1909
  8. Ponte Marechal Carmona – 1951
  9. Ponte 25 de Abril – 1966
  10. Fontes de consulta…
  11. Agradecimentos

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Ponte da Praia do Ribatejo

Localizada a jusante da confluência do Zêzere com o Tejo, a ponte de Praia do Ribatejo, além da ligação entre ambas as margens do rio Tejo ela faz também a “ligação” entre os municípios de Vila Nova da Barquinha e Constância, isto porque nesta zona a divisão entre os dois municípios encontra-se alinhada com o rio e ao centro dele.

Esta ponte foi construída para servir o troço de linha entre Santarém e Abrantes designada por Linha do Leste, Entroncamento – Badajoz, sendo inaugurada a 7 de novembro de 1862, um ano após a morte de D. Pedro V, que foi quem a mandou construir. Eram os primeiros passos do caminho de ferro em Portugal e a troca da opção fluvial pela via ferroviária.

A ponte Praia do Ribatejo, a primeira de todas a ser construída sobre o rio Tejo em território Português, servia exclusivamente a linha do caminho de ferro. A estrutura inicial que aqui foi construída tinha 16 vãos assentes sobre pilares tubulares de ferro fundido, mas devido a problemas de estabilidade, passados 25 anos teve de ser integralmente substituída. O início da construção da estrutura atual, adaptada para ponte rodoviária, data de 1887, entrou ao serviço em 1890 e foi construída sob responsabilidade da casa Eiffel, mantendo-se em atividade até 1979.

Esta travessia do Tejo mede 497 metros e faz ligação entre as estradas nacionais EN3, na margem norte, com a EN118 na margem sul. Foi inaugurada como ponte rodoviária em 1988, alguns anos após ter sido construída nova estrutura, assente em pilares de betão, construídos a jusante ao lado dos antigos pilares em granito, para substituir esta ponte na linha do caminho de ferro. A Linha de Leste chegou a Badajoz a 30 de Maio de 1863.

Nesta ponte a circulação rodoviária é permitida em ambos os sentidos, mas alternada por sinalização luminosa. Está limitada a veículos até 3500kg, que não ultrapassem 2,1 metros de altura e 2,4 metros de largura, exceto veículos de emergência e transporte escolar (ou outros devidamente autorizados pelas autarquias às quais a ponte pertence).

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Ponte rodoviária de Abrantes

A ponte rodoviária de Abrantes, por onde passa a estrada nacional N2, foi projetada em 1858 mas a sua construção iniciada apenas 10 anos mais tarde. A empreitada foi adjudicada a uma sociedade francesa, a qual a ficou a explorar durante 75 anos, sendo portajada durante esse periodo de tempo. Pagava-se 1 centavo para a poder atravessar.

Fonte desta imagem: mediotejo.net

Foi inaugurada em 1870 e veio colmatar uma necessidade grande da região, ligar Abrantes à estação do caminho de ferro construída próximo do Rossio ao Sul do Tejo. A anterior necessidade de circulação de pessoas e mercadorias nesta zona entre ambas as margens, obrigou a algumas construções pouco duráveis. Dessas construções, aquela que se manteve ativa durante mais tempo foi chamada de “Ponte das Barcas”, foi construída em 1822 para fins militares e resistiu à força do rio durante cinco anos. Hoje ainda são visíveis alguns pilares dessa ponte no Rossio ao Sul do Tejo, são conhecidos por Mourões.

Pouco antes de fazer 100 anos a ponte sofreu uma intervenção estrutural que resultou no alargamento do tabuleiro. Em 1979 resistiu com alguma dificuldade à maior cheia de que há registo, mas manteve-se em pé. Nesse ano o caudal do rio chegou a atingir a estrutura metálica. Em 2014 passou por nova intervenção na qual foi feita manutenção e reforço do tabuleiro.

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Ponte D. Luís I – Santarém

Esta importante obra de engenharia, batizada de Ponte D. Luís I, por ter sido construída no seu reinado, é hoje mais conhecida por Ponte de Santarém, faz a ligação da cidade de Santarém a Almeirim. Com o seu tabuleiro a ultrapassar os 1200 metros, foi inaugurada em 1881 e foi considerada na época “a ponte maior da Península Ibérica, a terceira da Europa e a sexta do Mundo”.

Na estrutura desta ponte existem duas zonas distintas, uma parte que fica sobre o leito do rio Tejo e outra que fica numa zona de mouchões e pauis, lado de Almeirim, onde se supõe outrora ter sido o leito do rio Tejo, hoje chamada de Tejo Velho. Em 1910, o tabuleiro da ponte que inicialmente tinha piso em madeira, foi iluminado com candeeiros a gás, passando a ser iluminada por energia elétrica em 1931. Ao longo da sua existência já passou por vários melhoramentos, onde se incluem reforço e alargamento das faixas de rodagem.

Um dos locais de onde se pode visualizar melhor esta ponte é a partir do miradouro das Portas do Sol, não apenas a ponte mas também Almeirim, a lezíria ribatejana, o próprio jardim das Portas do Sol, (que é muito bonito), e o horizonte a perder de vista.

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Ponte de Portas de Ródão

Ponte de três tramos que totaliza 267 metros de comprimento, apoiada sobre dois pilares em alvenaria de granito. Esta ponte é a mais curta do conjunto de pontes aqui apresentado, com o tabuleiro a cifrar-se pelo comprimento de 167 metros. Foi concluída em novembro de 1887, inaugurada em 1888, e em 1996 foram concluídas as obras de beneficiação e reforço a que foi sujeita.

Face às necessidades da travessia do Tejo nesta zona, ligação entre as Beiras e o Alentejo, que era exclusivamente efetuada em barcaças, chegou a ser proposta a ideia de entulhar a valleira das Portas de Rodam até à altura de 350 pés, por forma a melhorar a navegabilidade e evitar os sinistros que todos os anos as enchentes provocavam nas embarcações. Esta ideia foi apresentada por Bento Moura de Portugal, falecido em 1776, deixando claro esta ser uma necessidade local com décadas de existência.

No seu tabuleiro passa a estrada nacional N18, a segunda maior estrada de Portugal e uma das mais belas para percorrer, com o Km 0 no entroncamento com a EN16, na cidade da Guarda, e o final no entroncamento com a N2 em Ervidel, no Alentejo. A partir da ponte pode olhar para jusante e ver o monumento natural das Portas de Ródão, um estreitamento onde o rio Tejo atinge uns módicos 45 metros de largura.

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Ponte Rainha Dona Amélia (ferroviária)

Considerada uma obra notável de engenharia, a Ponte Rainha D. Amélia, que data de 1904, foi a “alavanca” impulsionadora deste artigo. Tal como a Ponte Praia do Ribatejo, também esta foi construída para uso ferroviário e mais tarde convertida a uso rodoviário. Para a linha férrea foi construída nova ponte a montante do rio e ao lado desta, sendo esta a única linha ferroviária por onde se faz o transporte de mercadorias entre o norte e o sul.

Os seus 840 metros de tabuleiro, um comprimento ainda impressionante nos dias de hoje, fizeram dela a ponte ferroviária mais extensa da península ibérica à data da sua construção. Esta será provavelmente a construção mais notável do conjunto de pontes da “arquitetura do ferro” aqui apresentadas. Localizada entre Vila Franca de Xira e Santarém, parece passar despercebida, mas não está escondida. A sua travessia foi sempre efetuada a um ritmo lento, inicialmente pela reduzida velocidade das máquinas a vapor, mais tarde pela diminuição das condições de segurança por ela oferecidas, e atualmente por imposição da sinalização rodoviária.

Já havia muito tempo que os municípios do Cartaxo e Salvaterra de Magos necessitavam de uma ligação rodoviária entre ambas as margens, o que vieram a conseguir após esta ponte ser “dispensada” pelos caminhos de ferro, tornando-se numa das mais importantes vias de comunicação entre ambos os municípios. A Rainha D. Amélia atravessou-a pela primeira vez a 14 de janeiro de 1904, (data da inauguração) quando se deslocava para Vila Viçosa com o seu marido, o Rei D. Carlos.

Esta estrutura veio substituir uma ponte de carácter provisório, composta por metal e madeira, para a qual foram usadas peças provenientes de uma antiga ponte da Linha do Norte, sobre o Rio Vouga.

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Ponte de Belver – Gavião

Segundo o ano inscrito numa das extremidades, a ponte Belver-Gavião terá sido inaugurada em 1905, embora a sua data de inauguração seja muitas vezes referida como relativa a 1907. No seu gradeamento marca-se também o ano de 1905 relativo à obra empreendida pela então Empresa Industrial Portuguesa, no que diz respeito sobretudo à parte metalomecânica da ponte.

O caminho de ferro da Linha da Beira Baixa, inicialmente apenas Linha do Leste, já por aqui passava há alguns anos quando a ponte foi inaugurada, vindo a permitir o acesso mais fácil a quem viesse da margem esquerda e quisesse apanhar o comboio.

Fonte desta imagem: Construções Betar

Em maio de 1889, uma representação de gavionenses apresentou ao rei – D. Luís, ou D. Carlos (?? sendo que Carlos I só se tornou rei em outubro desse ano), o pedido para a construção de uma ponte neste local. Em 1901 repetiu-se o pedido. Amieira e Alvega também pressionaram o poder central no sentido de se construir ali uma ponte, mas todas estas iniciativas saíram fracassadas. Esta ponte foi tornada realidade após muita insistências das populações, mas também devido à influência do conselheiro José Caetano Rebelo junto do rei.

Uma vez concluída, a ponte foi inaugurada em 1905, mas os acessos rodoviários dignos desse nome só chegariam em 1907. O atraso nestes acessos pode estar na origem da discrepância de datas relativamente ao ano em que a ponte foi concluída. Só em 1960 veio a ser retificado parte do ainda sinuoso percurso desde o rio Tejo até Gavião

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Ponte Isidro dos Reis – Chamusca

João Joaquim Isidro dos Reis, a quem se deve a existência desta ponte, nasceu na vila da Chamusca a 4 de dezembro de 1849. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e em 1878 entrou para o setor público, onde teve uma ascensão bastante rápida. Militante do Partido Progressista e com o partido onde militava no poder, em 1879 interveio junto do governo no sentido de que fosse restaurada a comarca da Chamusca ou, em alternativa, que fosse ali construída uma ponte sobre o Tejo, sob pena da situação política e económica locais se tornarem insuportáveis.

Não tendo obtido resultados, dez anos depois João Joaquim Isidro dos Reis voltou à carga e, acompanhado de representantes das câmaras municipais da Golegã e Torres Novas, dirigiu-se a Lisboa onde solicitou a construção da ponte ao Conselheiro José Luciano de Castro, de quem tinha sido secretário, conseguindo desta vez que o projeto fosse aprovado pela Comissão das Obras Públicas da Câmara dos Pares do Reino. A construção acabou por ser autorizada em 1899.

Em 1905 a construção desta ponte rodoviária acabou sendo adjudicada à companhia francesa Fives-Lille, a mesma que já construíra outras pontes em Portugal, mas as obras apenas arrancaram em 1908. A abertura desta ponte ao trânsito ocorreu a 31 de agosto de 1909. Tal como a ponte Rainha Dona Amélia, a estrutura desta ponte é um exemplar marcante da Arquitetura do Ferro, muito usual em finais do século XIX e início do século XX.

Esta ponte tem a extensão de 756 metros e duas faixas, embora na atualidade esteja a funcionar como sendo de faixa única devido à largura das faixas não permitir o cruzamento entre veículos de dimensões generosas, como autocarros e pesados de mercadorias. Pela sua estrutura e dimensão, a par com a ponte Rainha Dona Amélia esta é uma das pontes mais impressionantes da “Arquitetura do Ferro” apresentadas neste artigo.

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Ponte Marechal Carmona

O primeiro pedido oficial da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira para a construção de uma ponte sobre o Tejo junto a esta cidade data de 1924. Até à data a ligação entre as duas margens do rio era efetuada pelos “gasolinos”, barcos a motor que transportavam pessoas e carros durante o dia, e gado à noite, entre o embarcadouro de Cais do Cabo e Vila Franca de Xira.

Sendo ponto de confluência de algumas estradas que estabelecem a ligação entre o Norte e o Sul, esta foi a razão principal que levou o Ministério das Obras Públicas, por intermédio da Junta Autónoma de Estradas, a dar início ao estudo de construção de uma ponte neste lugar. A juntar a isso, Vila Franca de Xira fica sensivelmente a meio entre as cidades de Lisboa e Santarém, embora até à data em Lisboa não existisse nenhuma ponte para fazer a travessia para a outra margem.

Com o objetivo de pressionar o poder político para a construção da ponte, foi publicado um primeiro artigo num jornal regional, escrito pelo então presidente da câmara à data em exercício, que como presidente do município e diretor do jornal, marcou uma posição relevante sobre o assunto. A campanha prosseguiu com aquele que viria a ser o próximo presidente, sendo também um grande amigo de Oliveira Salazar.

Créditos desta imagem: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

Após alguns contratempos, a 26 de março de 1949 dava-se início aos trabalhos de construção de tal obra, com 1224 metros de comprimento e 524 metros de tabuleiro. À data esta ponte passava a ser o principal ponto de passagem entre ambas as margens do Tejo. Chegou a ser taxada com portagens, que vieram a ser abolidas em 1979, governava à data a primeira ministra Maria de Lurdes Pintassilgo. Foi inaugurada a 30 de dezembro de 1951, numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República, General Craveiro Lopes, e do Presidente do Conselho – António de Oliveira Salazar.

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Ponte 25 de Abril – Lisboa

A ponte 25 de Abril, que faz ligação entre Lisboa e Almada, foi durante alguns anos a maior ponte suspensa da Europa(*) e a primeira a ser construída em Lisboa. Começou por ser apenas rodoviária, mas na atualidade ela conta também com a linha ferroviária: – o piso superior para o transito automóvel e o piso inferior para a linha férrea, em funcionamento desde 1999, embora à data de construção da ponte já tenha ficado preparada para receber mais tarde a linha do caminho de ferro.

(*) ultrapassada pela Humber Bridge da Inglaterra em 1981

Créditos desta imagem: Sic Notícias

Foi inaugurada a 6 de agosto de 1966 com o nome Ponte Salazar, por ter sido construída no governo do Estado Novo. Com a “revolução dos cravos” e consequente queda do regime ditatorial, passou a chamar-se de Ponte 25 de Abril, nome que ainda mantém na atualidade. Pela sua semelhança é muitas vezes comparada à ponte Golden Gate de São Francisco, nos Estados Unidos, – foi construída pela mesma empresa. Hoje é um dos ex-libris de Lisboa e de grande utilização por quem mora em ambas as margens.

Créditos desta Imagem: NIT

A partir de vários pontos de Almada, principalmente a partir do Santuário do Cristo Rei é possível obter vista privilegiada sobre a Ponte 25 de Abril, e sobre a cidade de Lisboa, nomeadamente a zona mais próxima da margem do rio Tejo. Do conjunto de pontes da Arquitetura do Ferro aqui apresentadas, esta é a ponte de construção mais moderna, ou não fosse ela a mais recente. É a única ponte ainda portajada e também a única onde não é permitida a travessia pedestre.(**)

(**)a ponte Vasco da Gama não é de arquitetura de ferro e por isso não está neste artigo.

Créditos desta imagem: Observador

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Fontes da consulta informativa

  • Gazeta dos Caminhos de Ferro nº 1649
  • Mediotejo.net
  • Memoriasderodao.cm-vvrodao.pt (a História)
  • Junta de Freguesia de Gavião
  • Wikipédia
  • Blog Restos de Coleção…, e outras pesquisas virtuais.

Agradecimentos:

  • Ao Sr. presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, Dr. Fernando Manuel dos Santos Freire, pelo empenho pessoal na informação que nos disponibilizou. Um grande Bem Haja!
  • Agradecemos também aos serviços da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, pela ajuda em conseguir informação sobre a ponte localizada junto às Portas de Ródão.

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