Visitar Marvão
Em conversa com qualquer morador de Marvão, vai certamente ouvir dizer que a partir das muralhas do castelo, consegue ver as costas dos pássaros a voar.
Marvão é uma vila e sede de concelho situada no Alto Alentejo, junto à raia espanhola, a 3 horas de Lisboa e a meia hora de Portalegre no sentido norte, cidade sede de distrito a que pertence. Esta vila medieval encontra-se implantada no topo da Serra do Sapoio, o ponto mais alto da serra de S. Mamede, totalmente emoldurada pelas muralhas do castelo onde as pedras talhadas pelo homem se confundem com a geologia onde assentam. A sua altitude (860m) faz desta vila o local privilegiado na zona para vistas panorâmicas impressionantes. Marvão chega aos nossos dias com grande parte do seu casario quase intacto e na atualidade bem conservado, “apertado” entre as muralhas e sulcado por ruas estreitas que constituem a malha urbana.
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Conteúdos deste artigo
- Quando visitar Marvão
- Origens de Marvão – História
- Castelo de Marvão
- Caminhar pelas ruas de Marvão
- Portagem – São Salvador de Aramenha
- Ruinas de Ammaia, a cidade romana perdida no Alentejo
- Alameda dos freixos – Túnel das Árvores Fechadas
- Artesanato e produtos locais
- Localização e como chegar
- Recomendações de Alojamento
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Quando visitar Marvão
No contexto do clima, dada a sua posição altaneira, os invernos frios e ventosos não serão boa opção para uma visita a esta vila. Se tiver de vir no inverno é preferível com chuva do que com vento. Marvão é servida por bons acessos e por isso o clima não será obstáculo, mas a nossa recomendação vai para a primavera. Sobre eventos, tem em julho o festival de musica de Marvão que se prolonga por 8 dias. No inicio de outubro o festival medieval Al Mossassa é igualmente boa opção. E sendo esta uma zona de soutos, outra boa opção é o S. Martinho.
As origens de Marvão
O monte de Ammaia, como era conhecido antigamente, deve o seu nome atual ao guerreiro mouro Ibne Maruane Aliliqui, um rebelde muçulmano também conhecido por “O Galego”, líder de um movimento sufista que pegou nas armas e criou uma espécie de reino independente sediado em Badajoz, utilizando Marvão como local de refúgio sempre que necessitava. Era o refúgio estratégico para o líder quando Badajoz era ameaçada, mas os primórdios da utilização dos rochedos de Marvão como refúgio de povoações assoladas por povos invasores, já vem do tempo romano.
Sob domínio árabe durante séculos, Marvão foi reconquistado por D. Afonso Henriques na campanha militar de 1160/66. A conquista de Marvão foi uma vitória significativa graças à sua localização geográfica e estratégica, não só por estar perto de Espanha, mas também pela sua posição altaneira, que lhe proporciona defesa natural uma vez que o relevo na periferia é marcado por encostas íngremes, sendo apenas possível o acesso a pé a estes rochedos pelo lado Este, onde se desenvolveu a população.
Esta caraterística não passou indiferente a conquistadores e reis, os quais sempre se preocuparam com o reforço do castelo e das suas muralhas. Marvão teve um papel fundamental em grandes conflitos militares, vindo a receber o seu primeiro foral em 1226 atribuído pelo rei D. Sancho II, renovado por D. Dinis em 1299, e de novo por D. Manuel em 1512
Ao visitar Marvão, na certa irá ficar surpreendido com o conjunto arquitetónico tradicional alentejano que vai encontrar no interior das muralhas, é um estilo de arquitetura que não deixa ninguém indiferente. Caminhar pelas ruas da vila permite-lhe descobrir alguns exemplares dessa arquitetura, onde se incluem arcos góticos, janelas manuelinas, varandas de ferro forjado e outros detalhes construtivos sempre marcados pelo granito local.
Para além do castelo e das muralhas, que dificilmente se esquecem, no património edificado merecem destaque a Igreja de Santa Maria, atualmente transformada em Museu Municipal; a Igreja de Santiago; a Capela renascentista do Espírito Santo; e o Convento de Nossa Senhora da Estrela, este último já fora do perímetro muralhado. Em nossa opinião, um dos principais motivos para visitar esta vila é a beleza do seu casario, com ruas limpas e bem arranjadas, e as maravilhosas vistas a partir da posição altaneira da torre de menagem do castelo, ou mesmo das muralhas.
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Já tinha visitado Marvão há cinco anos atrás, na altura ainda sem o blog, apesar já ter feito algumas tentativas no sentido de conseguir uma forma diferente de registo e partilha de viagens e aventuras relacionadas, mas esta é uma vila que nos cativa ao ponto de ser fácil encontrar motivação para voltar. Recordo ter visto aqui pelo mundo virtual algo onde se lia esta ser uma localidade que devíamos visitar pelo menos uma vez na vida, uma frase que subscrevo na integra. A primeira visita a Marvão foi em meados de agosto, apesar da data, a quantidade de turistas por aqui nem por isso era numerosa, o calor abrasador levou a outras preferências. O mesmo não aconteceu em Portagem, uma localidade com praia fluvial maravilhosa que pertence ao município de Marvão e se vê na integra a partir das muralhas do castelo.
Castelo de Marvão
Marvão é uma vila medieval, com pouco para descrever, mas com charme próprio e sobre a qual não é fácil encontrar adjetivos que descrevam o seu encanto. De entre os pontos de visita a Marvão, a joia da coroa é sem dúvida o seu castelo. Se puder visite-o de dia, mas também à noite, a iluminação instalada origina um ambiente romântico difícil de encontrar em fortalezas semelhantes. Quando o visitamos de dia não nos foi possível ver a cisterna, que dizem ser uma das maiores do seu género. A visita à cisterna penso ser possível apenas numa visita guiada, ou solicitar essa visita na receção/entrada do castelo (?) nós não o fizemos.
As muralhas são de fácil acesso, mas convém ser prudente e não embarcar em facilitismos. Percorra-as em toda a periferia e faça delas miradouro, é caso mesmo para dizer que cada canto tem o seu vislumbre, e o seu encanto. O por do sol em todo o Alentejo é maravilhoso, visto aqui de cima é arrebatador.
Caminhar pelas ruas de Marvão
Perca-se um pouco pelas ruas da vila, mas não se apresse, para sentir a verdadeira alma de Marvão terá mesmo que caminhar sem planos ou rumo traçado. Visite a casa da cultura, o museu municipal e outros locais de visita, refresque a garganta numa das explanadas e aproveite para jantar por aqui, se for essa a sua decisão recomendo o restaurante Varandas do Alentejo. Nós visitamos Marvão no início da primavera, no entanto a época das castanhas parece-nos ser boa altura para uma visita a esta localidade e o seu município.
Portagem – São Salvador de Aramenha
Portagem é uma localidade que pertence à freguesia de São Salvador de Aramenha, município de Marvão, banhada pelo rio Sever, tendo ao seu dispor argumentos históricos relevantes, mas também um espaço de lazer e descontração, onde se inclui uma praia fluvial e um complexo de piscinas localizado mesmo ao lado.
Apesar de algumas lendas argumentarem que o nome da localidade estará relacionado com a vinda dos Judeus para Portugal, que na ponte “romana” aqui existente eram obrigados a pagar o valor da portagem estabelecido pelo Rei D. João II, a verdade é que a cobrança de portagens nesta ponte já vem da data de atribuição do primeiro foral a Marvão, tal como descrito na carta de foral de 1226 outorgada por D. Sancho II, que no site da câmara municipal refere ser do ano 1264 (?).
Nesta leito do rio foi construída uma praia fluvial, localizada entre as duas pontes, propícia a uns agradáveis mergulhos e momentos de laser, sendo por isso muito frequentada não apenas por residentes, mas também por pessoas que vêm de fora, principalmente do país vizinho, dada a sua proximidade à fronteira. A praia fluvial e as piscinas fazem parte de um espaço chamado Centro de Lazer de Portagem, que conta com vista magnífica para o castelo de Marvão. Toda esta zona constitui o local mais movimentado do município.
Ruínas de Ammaia – a cidade romana perdida no Alentejo
Ammaia é uma cidade romana perdida no Alto Alentejo, no vale de Aramenha. Terá sido construída de raiz no século I d.C. e alcançado o seu esplendor ao longo dos 3 séculos seguintes. Foi redescoberta no século passado e desde então tem estado a ser escavada e investigada por pessoas ligadas à arqueologia. Consta-se que entre a população local os vestígios romanos foram conhecidos desde sempre, mas só mais recentemente se começou a perceber que o que estava ali enterrado seria uma cidade romana.
Parte das suas pedras serviram ao longo do tempo para outras construções, e terá sido graças a uma dessas pedras que foi possível perceber a existência no lugar de algo verdadeiramente importante e grandioso. Na última década intensificaram-se os trabalhos e recorreu-se a tecnologias que permitiram radiografar toda a área, sendo possível através dos dados fornecidos construir uma imagem virtual de como seria a cidade. Os trabalhos continuam e no local existe ainda muito por descobrir. Existe também um museu no lugar onde podemos ver diversos objetos descobertos nas escavações, sendo um dos principais objetivos a recuperação, estudo e preservação deste importante Monumento Nacional.
Alameda dos Freixos “Túnel das Árvores Fechadas”
Há cada vez menos locais assim, e mesmo este está em risco de desaparecer. Considerada uma das estradas mais bonitas do Alentejo, a estrada nacional 246-1, em apenas alguns quilómetros consegue deslumbrar qualquer visitante com a sua beleza. Esta estrada encontra-se ladeada por uma quantidade numerosa de freixos, nos quais a câmara municipal todos os anos manda caiar uma faixa branca no tronco como forma de sinalização. Esta alameda de freixos encontra-se no lugar de S. Salvador de Aramenha, na estrada que liga Portagem a Castelo de Vide, com a alameda a iniciar logo à saída de Portagem.
Este troço conhecido como Alameda dos Freixos tem caraterísticas incomuns. Esta parte da estrada encontra-se classificada como arvoredo de interesse público desde 24 de fevereiro de 1997 e, nesse sentido, o município de Marvão tem todo o interesse em preservar e manter este património nas melhores condições, mas este símbolo icónico do município encontra-se em risco devido à necessidade de abate de algumas destas árvores. Por isso se for do seu interesse ver esta alameda ainda em vida, vá antes que as árvores sejam abatidas.
Conduzir nesta estrada é uma experiência diferente em cada estação do ano, com destaque para a “explosão” de vida na primavera e verão. Por isso, passar pela EN264-1 pode servir de motivação para conhecer um pouco mais das belezas e encantos desta região Alentejana.
Artesanato e produtos locais
À saída do castelo um senhor simpático propôs-nos uma prova de licores da região, sem compromissos, prova essa que aceitamos e em consequência decidimos comprar e trazer para consumir aqui em casa. Os licores que o Sr. vende são todos de produção caseira e obtidos através de produtos da região. São licores muito bons, por isso, se for do seu interesse deixamos a dica.
Na casa da cultura de Marvão, antigos passos do concelho, é possível visitar no rés-do-chão as antigas celas da prisão, que hoje são uma exposição de como era uma antiga sala de aulas antiga, e uma olaria, onde no interior duas artesãs davam asas à imaginação na elaboração de artesanato em cerâmica. Nesta última não nos foi permitido tirar foto. No primeiro piso podemos ver a sala do guarda da prisão e o acesso original às celas do piso inferior. Neste espaço funciona atualmente a sala de leitura do arquivo histórico municipal, e num dos cantos podemos ver alguns quadros feitos em casca de castanha por artesãs locais, cuja perfeição nos deixou um pouco boquiabertos.
Localização e como chegar
Marvão fica situada em pleno parque natural da serra de S. Mamede, no cume mais alto da serra aqui existente que tem o nome de Serra do Sapoio, a 10 quilómetros da fronteira com o país vizinho. Partindo de Lisboa, para chegar a Marvão terá de atravessar Portugal por completo. Se vier de carro, uma boa opção é percorrer na totalidade a estrada nacional EN118, com vistas excelentes ao longo de todo o percurso. De seguida apanhe a EN246 e posteriormente a 246-1, passando por Castelo de Vide e pela famosa alameda dos freixos. Caso não tenha carro, a única opção é o expresso até Portalegre e posteriormente o táxi. Há já algum tempo que a linha de ferro deixou de ser opção.
Recomendações de Alojamento
Como somos caravanistas, fizemos uso dessa forma de turismo, também conhecido por turismo de ar livre e ficamos instalados no Camping Asseiceira, no entanto, se necessitar de alojamento em Marvão deixamos algumas recomendações:
- Casa da Árvore, localizado dentro das muralhas e com vistas panorâmicas excelentes, encontra-se próximo da entrada do castelo e dos passos do concelho.
- Don Dinis Marvão, localizado dentro das muralhas do castelo e com vistas panorâmicas sobre a paisagem. Do conjunto aqui apresentado, possivelmente o mais bem localizado.
- El Rei dom Manuel, outra opção de alojamento com excelentes acomodações. Encontra-se na zona mais baixa da vila, zona um pouco mais movimentada.
- Tapada da Rabela – reserva Natural, em ambiente rural mas um pouco afastado de Marvão – 6,5km. Fica junto à estação dos caminhos de ferro.
- Turimenha, na zona baixa, próximo das ruínas da cidade de Ammaia, de Portagem e da alameda dos freixos.
- Pousada de Marvão, localizado no centro da vila e com decoração elegante, esta pousada oferece vistas deslumbrantes para a periferia a partir do seu restaurante.
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